quarta-feira, 1 de julho de 2009

Bronislaw Malinowski – Os Argonautas do Pacífico Ocidental

Bronislaw Malinowski – Os Argonautas do Pacífico Ocidental
Introdução - Tema, método e objetivo desta pesquisa
I – kula: Sistema de comércio que será descrito – fenômeno econômico de considerável importância teórica
II – Métodos: Etnografia, sinceridade metodológica na apresentação dos fatos nem sempre ocorreu com o grau necessário: Há muitas obras em que são feitas amplas generalizações sem que esteja revelada a experiência concreta que levou até determinada conclusão – "Um trabalho etnográfico só terá valor científico irrefutável se nos permitir distinguir claramente, de um lado, os resultados da observação direta e das declarações e interpretações nativas e, de outro, as inferências do autor, baseadas em seu próprio bom senso e intuição psicológica". Particularidade do autor, que deve procurar suas fontes não em documentos históricos, mas na memória de seres humanos; distância entre o material bruto da pesquisa e o resultado final.
III – Problemas na utilização de fontes secundárias: Muitas vezes, os ocidentais que viviam entre os nativos tinham grandes preconceitos, tornando repulsiva a utilização deste material aos autores que pretendem criar uma análise científica. O sucesso é obtido através de regras de bom-senso e de princípios científicos; princípios metodológicos: 1) Lógica: pesquisador deve ter objetivos genuinamente científicos e conhecer os valores e critérios da etnografia moderna; 2) Boas condições de trabalho: viver entre os nativos; 3) métodos especiais de coleta (conhecimento teórico)
IV – Condições adequadas à pesquisa etnográfica (item 2, acima): Afastar-se da companhia dos brancos, contato íntimo com os nativos; estar em contato com os nativos = presença do etnógrafo assume o caráter natural e harmônico com o ambiente que o rodeia; "tudo o que se passava no decorrer do dia estava plenamente ao meu alcance e não podia, assim, escapar a minha observação".
V – Exigência de métodos eficazes de fatos etnográficos (item 3, acima): Quanto mais arcabouço teórico, fatos e problemas tiver sobre os nativos a serem estudados, mais bem equipado estará ao seu trabalho: "O pesquisador de campo depende inteiramente da inspiração que lhe oferecem os estudos teóricos". Não se trata mais de encarar os nativos como bárbaros sem costumes, mas de demonstrar a constituição da tribo, a organização nativa, o código de comportamento e de boas maneiras, tal rigoroso como o das cortes de Versalhes. Objetivo: Perscrutar a cultura nativa na totalidade de seus aspectos – contorno firme e claro da constituição tribal. Não mais analisa-los como retratos infantis de nossa sociedade (crítica aos evolucionistas).
VI – Tais elementos não estão cristalizados em algum lugar, mas antes, estão no próprio ser humano: obedecem à força o código tribal sem compreende-lo. Deve haver uma pesquisa sistemática, metódica e contínua, contendo o maior numero de detalhes, conduzindo a pesquisa através de linhas de efetiva relevância e a objetivos realmente importantes. Métodos indutivos – levantamento exaustivo de todos os fatos ao nosso alcance. Utilização de quadros sinóticos. Documentos fundamentais da pesquisa etnográfica: recenseamento genealógico de cada comunidade: permite formular questões para serem feitas de maneira concreta ao nativo – resposta aos problemas abstratos obtidas através de inferência a partir de conjunto de casos. Para ter sucesso, o etnógrafo deve distinguir observações diretas de informações que recebeu indiretamente, pois ambas estão contida no seu relato. Fenômenos estudados pelo maior numero possível de suas manifestações e colocados em um quadro sinótico, em que instrumentos serão utilizados para traçar a constituição social da tribo – nome: método de documentação estatística por evidencia concreta.
VII – Princípios: incrementados por dados referentes ao modo de perpetuação do costume – a carne e o sangue da vida nativa real preenchem o esqueleto vazio das construções abstratas. Há, também, a série de fenômenos importantes que podem ser registrados por meio de questionários e documentos estatísticos: imponderáveis da vida real (esforço para atingir a atitude mental que neles se expressa). Nenhum destes aspectos deve ser menosprezados. Deve-se apresentar também os detalhes, o tom do comportamento, e não só o esboço dos acontecimentos. Há, sim, portanto, uma interferência da subjetividade do observador – devemos empenhar-nos para que os fatos falem por si mesmos. Há a necessidade de um diário etnográfico, e de participação da vida nativa como um membro tradicional desta comunidade.
VIII – Necessidade do registro do espírito – pontos de vista, opiniões, palavras dos nativos: moldados pela cultura em que os encontramos, portanto, peculiaridade da sociedade em questão. Interesse pelo que os indivíduos sentem enquanto membros da comunidade. Terceiro mandamento da pesquisa: descobrir os modos de pensar e senti típicos, correspondentes às instituições e à cultura de determinada comunidade, formulando os resultados de maneira vívida e convincente.
IX – Objetivo final da pesquisa (apreender o ponto de vista do nativo, a sua visão de mundo), pode ser obtido por 3 caminhos: a) Organização da tribo e a anatomia de sua cultura (método de documentação concreta e estatística); 2) fatos imponderáveis da vida real, bem como tipos de comportamento; 3) Corpus Inscriptionum: documento da mentalidade nativa
" Estudar as instituições, costumes, e códigos, ou estudar o comportamento, a mentalidade do homem, sem atingir os desejos e sentimentos subjetivos pelos quais ele vive, e sem o intuito de compreender o que é, para ele, a essência de sua felicidade, é, em minha opinião, perder a maior recompensa que se possa esperar do estudo do homem".
Quadro Sinótico:
Metáfora
Objetivo
Instrumento
Objeto
Resultado
Esqueleto
Captar a organização da tribo - anatomia
Documentação concreta, estatística, quadros, diagramas
Rotina cristalizada dos ritos e costumes
Leis
Carne e sangue
Imponderáveis da vida social e tipos de comportamentos
Diário de campo; tom; sutilezas; desvios
Como a rotina é vivida
Prescrição das atitudes
Espírito
Captar os modos típicos e estereotipados de pensar
Formula fixa e estereotipada (que não é invento do indivíduo): "corpus inscriptionum"
Discursos (comentários)
Representações coletivas

Émile Durkheim – Formas Elementares da Vida Religiosa

Émile Durkheim – Formas Elementares da Vida Religiosa
I. Escola Sociológica Francesa: Durkheim segue a proposta de Comte (física social: estática social ou dinâmica social, evolucionismo). Trata da ordem e coesão social. Outros autores como Hubert e Hertz. Forte ligação entre sua teoria e o momento histórico: dar respostas aos problemas que lhe eram contemporâneos, não ideológicas – sociologia como uma contribuição moral. Crença na harmonização racional e pacífica: Sociologia deve contribuir para o progresso social. Sociedades analisadas como um todo, um sistema (nada pode ser entendido isoladamente). O problema do evolucionismo seria justamente analisar traços isolados. Análise sincrônica: apreende regras de funcionamento sociais geral à Funcionalismo: Entende como função a contribuição que cada instituição social dá à manutenção do todo: são saudáveis ou não pelo grau de coesão social. Objeto da sociologia: Fato social (modos de agir, pensar e sentir exteriores ao indivíduo)
A Sociedade é algo que ultrapassa a soma de todos os seus indivíduos. Solidariedade Mecânica: Sociedades primitivas, não ocidentais, em que a consciência coletiva garante o consenso; Solidariedade Orgânica: Organismos com funções diferentes que se integram, há o aumento demográfico e de complexidade. Os indivíduos como produtos da solidariedade orgânica: observáveis e analisáveis. Nada que é social pode ser interpretado pelo individual, isso poderia ser objeto de estudo da psicologia. À sociologia cabe a explicação do social pelo social, tratar os fatos de maneira objetiva e imparcial – nenhum símbolo pode ser interpretado fora do contexto.
II. Teoria Durkheim: Como surge e se mantêm a ordem social: não é o Estado que explica o fato social, as este explica aquele. Faz das Sociologia uma ciência autônoma e empírica, demonstrando o "como", e não o "por que". Separa-a da psicologia, considerando ilegítimo um estudo sociológico que trata da consciência individual como geradora dos fatos sociais.
Social para o autor: deve haver integração com uma comunidade moral - integração seria, então adaptar-se, viver de acordo ao que já é dado pelas instituições centrais como a família, a religião (igreja), o Estado e, nele, o jurídico que é a exterioridade da moral, a divisão do trabalho e sua função de criação de solidariedade,etc. Suportes: consenso, coesão, e daí a harmonia e equilíbrio ergue-se uma consciência coletiva (notadamente na solidariedade orgânica), que se sobrepõem as consciências individuais, as controla e orienta.
Sociedade como um primado controlador em que o indivíduo é visto apenas como suporte de normas e valores que a ele se impõem. As ameaças à integração moral são tidas como uma doença no corpo social: fato normal (órgão saudável) é aquele que funda-se na natureza das coisas, e patológico é aquele que diverge do que deveria ser.
III. Formas Elementares da Vida Religiosa: Experiência coletiva é o suporte tanto da religião como da sociedade (o totem físico denota algo invisível). Trata da origem da religião não no medo, mas no entrar em contato com o extraordinário: A festa totêmica é o culto da própria sociedade. Uma mudança de paradigma ao tratar a religião como fato social, portanto, cientificamente explicado com base no coletivo
As representações: O primado ontológico do social, agora já configurado na existência da vida religiosa, faz desta a força engendradora do arcabouço social na sua totalidade naquilo que é essencial na vida humana, tanto do ponto de vista das mentes e espíritos como das condições materiais de existência como ele mesmo afirma “Não existe religião que na seja uma cosmologia ao mesmo tempo que uma especulação sobre o divino”.
Busca nos australianos os princípios da sociedade ocidental, melhor apreciáveis nos mais simples à Sociedades mais homogêneas, mais próximas à Solidariedade Mecânica, em que o indivíduo perde sua personalidade. Religiões como espécies de um mesmo gênero (categoriais fundamentais pelas quais os humanos pensam, mas não com o mesmo conteúdo)
Resumo do texto introdutório de Renato Ortiz
Base material da sociedade, sua morfologia, é determinante sobre os fenômenos da "consciência coletiva"; a compreensão de universos religiosos nos remete à discussão sobre os "ideais", ao estudo de realidades específicas que transcendem o mundo imediato: reflexão sobre os universos ideológicos, de sua autonomia em relação à vida social e de sua eficácia como transformadores das situações de fato – exemplos políticos surgem então de uma analogia com fenômenos religiosos; sociedades para existirem produzem representações que lhes são estruturalmente necessárias: ideologia é constitutiva do processo social; Durkheim dialoga com seu tempo; obsessão pela problemática da moral; D'us = sociedade: autodivinização da sociedade; coerção adquire aqui um estatuto transcendental e sagrado à Diante a crise da sociedades modernas, a religião dos primitivos oferece uma lição exemplar de coesão social
Representações religiosas como constitutivas da sociedade: se afasta da idéia de que religião seria somente uma ilusão; Durkheim desconfia da idéia de progresso que atribui à humanidade a capacidade de se desenvolver no mesmo sentido histórico segundo uma marcha retilínea; ao mesmo tempo que existe um certo evolucionismo no livro, existe também uma recusa ao progresso moral da humanidade: evolução dos valores é sem sentido, uma vez que cada sociedade produz seus próprios códigos, tornando irrelevante a comparação entre primitivos e modernos; o estado de efervescência das multidões causam o fenômeno religioso; totemismo essencialmente como uma religião clânica: estrutura elementar de base para o entendimento de outros universos religiosos; intenção de determinar o nascimento do fenômeno religioso: encontra sua causa nas migrações sazonais dos australianos, fenômenos de multidão: os homens se organizaram primeiro em classes depois em clãs para depois classificarem o mundo em gêneros e espécies, as representações são um produto da sociedade.
Totem como emblema da tribo o levaram a perceber que a vida social só é possível através de vasto simbolismo (se estendendo a símbolos do Estado, como a bandeira): o sagrado se insere, assim, no interior das sociedades modernas; Trata, junto com "algumas formas de classificação primitiva", de uma sociologia do conhecimento; representação: a) conteúdo; b)forma; estudo dos povos primitivos lhe permite demonstrar que essas categorias são produtos da sociedade, articulando-se no interior de "quadros sociais do conhecimento": representações de tempo, espaço, morte, etc... ganham desta forma solo sociológico e historicidade; Durkheim acentua sempre o lado consensual da prática religiosa, sendo a Igreja o espaço em que práticas sociais se articulam e unem em torno de uma mesma comunidade moral; instituições só passam a interessar a Durkheim uma vez que são "instituições sociais", espaços no interior dos quais se manifesta uma consciência coletiva; Um estudo sobre a solidariedade orgânica dos povos primitivos: entender como os universos religiosos cimentam a heterogeneidade social.

Fichamento: As estruturas elementares do parentesco; Claude Lévi-Strauss - Capítulo 1 – Natureza e Cultura.

Fichamento: As estruturas elementares do parentesco; Claude Lévi-Strauss
Capítulo 1 – Natureza e Cultura.
1. Repúdio a distinção entre estado de natureza e sociedade: As mais antigas das organizações sociais já tinham uma cultura, portanto, o problema está nas várias propostas de distinção
2. Trata-se de uma distinção lógica, na falta de uma significação histórica aceitável, utilizada pela sociologia como instrumento metodológico. Enquanto o fator biológico relaciona-se com a natureza, o indivíduo enquanto social relaciona-se com a condição.Um estímulo físico-biológico e outros psicossocial podem gerar relações do mesmo tipo, sendo que, na maioria dos casos, há uma integração entre ambos: "a cultura não pode ser considerada nem simplesmente justaposta nem simplesmente superposta á vida".
3. A dificuldade se inicia, portanto, na análise: Qual fator é biológico e qual é cultural? " Por que mecanismos atitudes de origem cultural podem enxertar-se em comportamentos que são de natureza biológica, e conseguir integra-los a si?". Ou seja, os problemas das passagens entre as duas ordens.
4. Problemática cíclica em se estudar tal dicotomia por meio da separação de um bebe do convívio social.
5. Meninos selvagens encontrados no Século XVIII serviriam ao caso sem as problemáticas do artifício, mas a razão para o abandono era muitas vezes um problema mental ou congênito da criança.
6. Muitas dessas crianças, por seus afastamentos com a cultura, foram chamadas de idiotas congênitos
7. Pela imprescindível necessidade humana de sociabilidade, seria problemático o experimento, "dado que não há um comportamento natural senão o doméstico". O homem é doméstico pois é domesticado por outros homens.
8. Portanto, inexiste a possibilidade em se ver no homem uma ilustração de comportamento de caráter pré-cultural, e se estudarmos nos animais mais evoluídos um esboço do que seria a cultura, um estudo voltado aos mamíferos superiores, macacos antropóides? Um esboço do "modelo cultural universal": linguagem, valores estéticos, morais ou religiosos.
9. Pode até haver tais elementos, mas são muito pobres. Se o macaco tem a possibilidade de utilizar a linguagem quando forçado para tanto, porque não o faz naturalmente?
10. Impossibilidade de conclusões pela experiência. "Vida social dos macacos não se presta à formulação de nenhuma norma". Não há regularidade no comportamento nem do individuo, nem do contexto. A solução aos problemas é dada por meio de erros e acertos, e a relação de dominação entre animais é irregular.
11. Macacos antropóides: Mais gostos do que outros animais, na vida sexual, um comportamento semelhante ao homem, tanto no que se chama de normal como no que de anormal (contra as convenções sociais). Portanto, individualização do comportamento assemelham-no ao homem. Há um erro, assim, em Malinowski, de que o comportamento sexual dos machos antropóides são comuns na mesma espécie.
12. Não há nem um domínio normativo instintivo como nos mamíferos inferiores, nem normativo cultural como no homem.
13. Assim, a ausência de regra surge como a mais segura distinção de um processo natural do cultural. Impossível observar um fenômeno sendo exclusivamente cultural ou natural. Cultura: "instauração no [...] grupo dificilmente pode ser concebida sem linguagem.
14. Presença da regra, critério mais valido para ver onde há cultura: "Que tudo quanto é universal no homem depende da ordem da natureza e se caracteriza pela espontaneidade, e que tudo quanto esta ligado a uma norma pertence a cultura e apresenta os atributos do relativo e do particular". Proibição do incesto: Regra universal entre os grupos sociais.
15. Relatividade da questão da exceção.
16. Casamentos pode ser proibido de maneiras diferentes nas diferentes sociedades. O incesto sendo permitido (exceção) poderia ser restrito a uma certa categoria social
17. Ou o incesto, como no Egito, sua permissão (exceção) permitida aos primogênitos. Portanto, é universal e normativo, uma vez que sua proibição tem como sanção desde a morte, ate um ritual místico ou uma aversão moral.
18. Proibição do incesto: caráter universal (portanto natural) e normativo (portanto cultural)
19. Lévy-Bruhl: " questão do incesto [...] não admite solução nenhuma [...] É inútil perguntar por que razoes o incesto é proibido. Esta proibição não existe [...] ninguém pensa em proibi-la. É alguma coisa que não acontece. Ou se, por impossível isso acontecesse, seria alguma coisa inaudita, um monstrum, uma transgressão que espalha o horror e o pavor. As sociedades primitivas conhecem a proibição da autofagia ou do fratricídio? Essas sociedades não tem mais nem menos razão para proibir o incesto".
20.Lévi-Strauss critica a repugnância e timidez de sociólogos e antropologos como Lévy-Bruhl.

Marcel Mauss: Ensaio sobre a Dádiva

Marcel Mauss: Ensaio sobre a Dádiva (é publicado logo após os Argonautas do Pacífico Ocidental, de Malinowski, que ao contrário de Mauss pôde ir à campo).
Princípio Durkheimiano de social é aplicado a mercadoria à construção do eu e do corpo: indivíduo depende da sociedade – descobertas de atos coletivos sob bases individuais.
Tese central: A dádiva é fundamento de toda sociabilidade e comunicação humanas, assim como sua presença e sua diferente institucionalização em várias sociedades analisadas por Mauss, capitalistas e não capitalistas. Ora, o argumento central do Ensaio é de que a dádiva produz a aliança, tanto as alianças matrimoniais como as políticas (trocas entre chefes ou diferentes camadas sociais), religiosas (como nos sacrifícios, entendidos como um modo de relacionamento com os deuses), econômicas, jurídicas e diplomáticas (incluindo-se aqui as relações pessoais de hospitalidade).
Relativiza ao afirmar que o comércio não é igualmente universal – trata-se de um evolucionista que começa a ter um tom crítico quanto ao próprio evolucionismo. Crítica de Lévi-Strauss: O conceito de Mauss é muito específico para a abrangência em que este é utilizado (comparação)
Introdução: Da dádiva e, em particular, da obrigação de retribuir presentes:
" Um presente dado espera sempre um presente de volta"
Enfoque no caráter voluntário, por assim dizer, aparentemente livre e gratuito, e no entanto obrigatório e interessado, dessas prestações. Princípios geradores desta forma necessária de troca: "Que força existe, na coisa dada, que faz que o donatário à retribua". Uma arqueologia das transações humanas em outras sociedades. Existe um mercado econômico, mas o regime de troca é diferentes do nosso: moral e economia que regem essas transações.
Método de comparação preciso – áreas de estudo: Polinésia, Melanésia, Noroeste americano, e alguns grandes direitos. Renúncia a comparação constantes, restringindo o objeto de estudo.
Estudo dos mesmo Polinésios a quem classificavam como detentores de uma Economia Natural. Não existe a simples troca de bens entre indivíduos. Em primeiro lugar pois não são indivíduos, mas coletividades que se obrigam mutuamente – pessoas morais: clãs, tribos, famiílias. Além disso, o objeto de troca não é, exclusivamente, bens economicamente úteis, podendo ser amabilidades, banquetes, ritos, mulheres, crianças, danas, festas: Circulação é um termo de um contrato bem mais geral e permanente (e o mercado apenas um dos momentos): Sistemas de Prestações Totais. Tipo mais puro nas tribos australianas ou norte-americanas: Potlatch: "Nutrir", "Consumir" – assmbléia solene da tribo, uma perpétua festa realizada no inverno em que, segundo as confrarias hierárquicas, uma trama inextricável de ritos, prestação jurídica, econômica e determinações de cargos políticos se dá. Importantes: O princípio da rivalidade e do antagonismos que domina essas práticas. Briga entre os chefes pela hierarquia que beneficiará todo o seu clã: prestações totais de tipo agonístico. Outros casos, como na Polinésia, em que estudaremos a razão que obriga a restribuição da coisa dada.
I – As dádivas trocadas e a obrigação de retribuí-las (Polinésia)
1. Prestação total, bens uterinos contra bens masculinos (Samoa)
Sistema de oferendas contratuais em Samoa, muito além do casamento, acompanhando acontecimentos como o nascimento do filho, a circuncisão, doença, puberdade da moça, ritos funerários, comércio. 2 elementos essenciais no potlatch: a) o da honra, prestígio, mana que a riqueza confere; b) obrigação absoluta de retribuição sob pena de perder esse mana, autoridade, talismã, fonte de riqueza que é a própria autoridade. Ex: O sacrifício dos vínculos naturais do nascimento de uma criança facilita a sistemática de circulação entre propriedades indígenas e estrangeiras (trocas de bens entre as famílias uterinas e masculina). Falta apenas a rivalidade, o combate, a destruição para haver potlatch Oloa: objetos, bens móveis do marido Tonga: propriedade, tudo o que pode ser trocado, ou como objeto de compensação: uma propriedade-talismã (definição ampliada).
2. Do espírito da coisa dada (Maori)
Sistema de trocas: dar presentes que devem ser ulteriormente trocados ou retribuídos; trocadas por tribos ou famílias amigas sem estipulações. Hau: espírito da coisa dada – idéia dominante do direito maori: " Os taonga e todas as propriedades rigorosamente ditas pessoais têm um hau, um poder espiritual. Você me dá um, eu o dou a um terceiro; este me retribui um outro, porque ele é movido pelo hau de minha dádiva; e sou obrigado a dar-lhe essa coisa, porque devod evolver-lhe o que em realidade é o produto do hau do seu toanga". O hau acompanha todo detentor, todo indivíduo ao uqal o taonga é simplesmente transmitido: hau que quer voltar ao lugar de seu nascimento. A) Entender a natureza do vínculo jurídico criado pela transmissão de alguma coisa, que detém uma própria alma: dar alguma coisa a alguém é dar algo de si; b) obrigação de retribuir: uma vez que recebe-se uma parte do outro, o que recebeu vê-se obrigado à dar uma parte de si, não apenas porque seria ilícito não faze-lo, mas também porque a coisa dada exerce uma grande influencia mágica sobre quem quer que as possua.
3. Outros Temas: a obrigação de dar, a obrigação de receber
Não se resume somente a obrigação de retribuir, mas também à obrigação de dar, por um lado, e de receber, pelo outro. Estes 3 atos geram a explicação da forma de contrato entre os clãs polinésios. Recusar dar é tido como negligenciar convidar, e recusar receber equivale a declarar guerra (recusar aliança, comunhão). Há assim uma série de direitos e deveres de dar e receber. Tudo é matéria de transmissão e de prestação de contas: tudo vaie vem como se houvesse uma constate troca de uma matéria espiritual que compreendesse coisas e homens, entre clãs e indivíduos, repartidos entre as funções os sexos e as gerações.
4. Observação – O presente dado aos homens e o presente dado às divindades:
Presente dado aos homens em vista das divindades e da natureza: as trocas entre homens incitam os espíritos dos mortos, as divindades, as coisas, os animais, a natureza a serem "generosos para com eles". Os homens podem ser tidos como encarnações xamanísticas, assim a troca entre eles e os contratos arrasta consigo todo um turbilhão não apenas de homens e de coisas, mas também de seres sagrados à eles associados. Tentativa de dar maior abrangência à esta instituição de troca-dádiva, não restrita apenas à Polinésia; essa interpretação vale para vários outros grupos de sociedades.
II – Extensão desse sistema. Liberdade, honra, moeda.
1. Regras de generosidade. Andamam
Finalidade Moral: produzir sentimento de amizade entre as partes envolvidas – rivalidade na generosidade, buscando superar o outro. Trata-se essencialmente de misturas, das almas nas coisas e as coisas nas almas; vidas: mistura é dada pelo contrato e troca
2. Princípios, razões, e intensidade das trocas e de dádivas (Melanésia)
Conservaram e desenvolveram o sistema de trocas na Melanésia, aparecendo com mais clareza a noção de moeda. Kula: Sistema de comércio intertribal, uma espécie de grande potlatch; de ordem nobre, restrito aos chefes (círculo no qual transitam as coisas). Muito diferenciado das trocas simples econômicas de mercadorias úteis (gimwali): dar e receber, os donatários de um dia sendo o doadores do outro (podem ocorrer na mesma festa) – pode-se aproveitar o kula de menor envergadura para a troca de carregamentos. Há uma ritualística durante a troca em que o doador simula uma modéstia exagerada para demonstrar certa liberalidade, liberdade, autonomia e grandeza ao ato – mas são no fundo mecanismos de obrigação.
Objeto essencial dessas trocas-doações: vaygu'a – dois tipos: a) mwali: braceletes de conchas talhada e polida, usados em grandes ocasiões; b) soulava: Colares confeccionados por hábeis artesãos com o nácar da ostra-espinhosa vermelha: usados solenemente pelas mulheres, e excepcionalmente pelos homens (em caso de agonia). Os braceletes são transmitidos de Oeste a Leste, e os colares ao contrário. Devem ser guardados, e as comunidades se orgulham de possuí-los. Uma propriedade que se tem sobre o presente recebido, mas que muito difere das categorias jurídicas, morais, e econômicas do ocidente.
Possui também uma face mítica, religiosa e mágica:vaygu'a possuem cada um suas idiossincrasias, denotando-lhes um caráter sagrado. Há a invocação de animais durante o ritual, seja de crocodilos, ou de aves: sociologicamente, é a mistura dos valores, das coisas dos contratos, dos homens.
Kula: Ponto culminante da vida econômica e civil, do sistema de prestações e contraprestações: a) Kula dá origem ao gimwali, trocas prosaicas que não necessariamente precisam ocorrer entre parceiros; b) entre os parceiros do Kula passa uma cadeia ininterrupta de presentes suplementares, dados, retribuídos e também um comércio obrigatório. A aceitação de uma oferenda significa a disponibilidade para entrar no jogo, quando não para permanecer. Durante todo o tempo da troca, intervém atividades regularmente retribuídas, como a troca de mulheres e hospitalidade.
Kula intertribal, caso exagerado, mais solene e dramático, de um sistema mais geral, em que a tribo passa a se relacionar com outras, transcende suas fronteiras, sendo um légitimo potlatch. O sistema de dádivas permeia toda a vida econômica e moral dos nativos. Existem relações análogas ao Kula. Não parece que a troca seja realmente livre.
Este princípio é relativamente encontrado entre demais tribos de outros pontos da Melanésia: Melanésios e Papua Nova Guiné tem o potlatch. Há uma vida econômica que ultrapassa as fronterias das ilhas e dialetos, e um comércio considerável. Problema: Incapacidade de abstrair e dividir seus conceitos econômicos e jurídicos (tal como não conseguiu fazer o direito germânico), os próprios indivíduos não sabem diferenciar-se: compra e venda, fazer e tomar empréstimo são expressadas pelas mesmas palavras: atos antitéticos são expressos pela mesma palavra. Há uma parte da humanidade que troca coisas consideráveis sob outras formas e por razões diferentes das que conhecemos.
3. Noroeste americano
Indígenas do noroeste americano apresentam as mesmas instituições, com a diferença de que nelas sai ainda mais radicais e acentuadas. Tal regime, dada a extensão, Mauss presume que este regime de trocas foi o de grande parte da humanidade durante uma fase de transição, e que subsiste em uma série de povos além dos quais foram descritos: "Esse princípio de troca-dádiva deve ter sido o das sociedade que ultrapassaram a fase da "prestação total" (de clã a clã e de família a família), mas que ainda não chegaram ao contrato individual puro, ao mercado onde circula dinheiro, à venda propriamente dita e, sobretudo, à noção de preço calculado em moeda pesada e reconhecida".
III. Sobrevivências desses princípios nos direitos antigos e nas economias antigas
As etnografias supracitadas permitem a compreensão de uma evolução social: "instituições desse tipo forneceram realmente transições para nossas formas", de direito e economia. Podem servir para explicar historicamente nossa própria sociedade. Nosso direito e economia se originaram de instituições semelhantes à essas. Há as distinções jurídicas de direito real e pessoal, bem como de obrigações e dádivas.
1. Direito pessoal e direito real (direito romano muito antigo)
O vínculo do direito provém tanto das coisas como dos homens.: tal vínculo é ainda permeado por representações religiosas. Além deste vínculo religioso, há o do formalismo jurídico, palavras e gestos. As coisas não são seres inertes, mas fazem parte da posse da família. Há a figura do contrato. A res, que denota posse, deve ter sido, anteriormente, como a palavra sânscrito rah, que denota dádiva, troca. Há, assim, a presença, em algum momento histórico, de sistemas semelhantes aos descritos na América e Oceania nos sistemas jurídicos indu-europeus.
2. Direito Hindu Clássico (teoria da Dádiva)
Lei da dádiva aqui descrita só se aplica aos brâmanes, havia um sistema de potlatch em todo o país, em dois grandes e numerosos grupos, que desapareceu após séculos de existência. A coisa dada produz sua recompensa nessa vida e em outra (ex: terras doadas que produzem o ganho a outrem faz crescer nossos ganhos neste mundo e no outro). Há, portanto, um fundo teológico-místico nas doações. É da natureza do alimento ser compartilhado, não dividi-lo é matar a sua essência (a riqueza é produzida para ser dada). Os princípios do direito bramânico nos lembram alguns princípios polinésios, melanésios e americanos: a maneira de receber a dádiva é análoga. (a casta dos brâmanes, que vive de dádiva, pretende recusa-las, transgredindo e aceitando as que foram oferecidas espontaneamente, anotando em listas as pessoas que doam, criando um vínculo entre doador e donatário: um esta demasiadamente ligado ao outro). Dádiva: o que se deve fazer, deve receber, e no entanto é perigoso tomar.
3. Direito Germânico (a caução e a dádiva)
A civilização germânica existiu por muito tempo sem mercados, tendo ao extremo todo o sistema do potlatch, mas sobretudo o sistema das dádivas: a vida fora do interior, seja dos clãs ou da família, era promovida pelo sistema das dádivas. A doação de presentes aos recém-casados é um exemplo deste sistema. A necessidade de caução em todos os tipos de contratos germânicos é outro exemplo, cuja função era promover o vínculo entre as partes. Há, por outro lado, a dádiva, o presente que pode ser transformado em veneno –muito recorrente ao folclore germânico.
Direito Céltico: também conheceu tais instituições
Direito Chinês: Conserva uma marcante característica dos tempos arcaicos: o vínculo indissolúvel entre a coisa com seu proprietário inicial. Mesmo que ele a venda, sempre poderá "chorar seu bem", uma espécie de direito de sucessão sobre a coisa.
IV – Conclusão:
1. Conclusão de Moral
É possível estender essas observações a nossas sociedades. Ainda hoje existe uma certa reciprocidade, como na troca de presentes e convites, em que ocorre a proibição moral do "ficar em dívida". As coisas vendidas tem também alguma alma, sendo seguidas pelo antigo proprietário. Há, além disso, o reaparecimento da dádiva no direito, em especial nas políticas governamentais de programas intervencionistas.
O sistema de prestações totais (clã-clã) é o mais antigo sistema de direito e economia, e o fundo sob o qual se estruturou a moral dádiva-troca.
2. Conclusões de Sociologia Econômica e Economia Política
Trata-se de uma economia muito rica, repleta de elementos religiosos. Clãs, gerações e sexos, devido às múltiplas relações que os contratos ensejam, estão em estado de perpétua efervescência econômica. No fundo, as dádivas não são nem livres nem desinteressadas(servindo de contraprestações para manter alianças e pagamentos de serviços). O Potlatch assume o caráter de puro gasto dispendioso, a destruição pelo prazer de destruir. Riquezas é um meio de prestígio e utilidade, muito diferente do Homo oeconomicus, um produto da Sociedade Ocidental: a busca individual do útil é muito diferente da fria razão capitalista.
3. Conclusão de Sociologia Geral e de Moral
Este estudo é um guia para que próximos estudos possam ser feitos. Estuda fatos sociais totais (ou gerais), ou seja, aqueles que põem em ação a totalidade da Sociedade e das Instituições, constituindo sistemas sociais inteiros (jurídicos, morais e econômicos). Importante ver a generalidade dos fatos e a sua realidade.
Conclusão: As sociedades progrediram na medida que souberam estabilizar as suas relações; retribuir. Estudo em certos casos particulares de um comportamento humano total, a vida social inteira.

Marcel Mauss- As técnicas do Corpo

Marcel Mauss- As técnicas do Corpo
I – Noção de técnica do corpo
- Modo de andar dos EUA são disseminado pelo cinema na França: há uma educação do andar, da posição das mãos.
- "Habitus": Variam em indivíduos, sociedade, educações, conveniência, modar prestígios
- Tríplice ponto de vista do homem total: Fisiológica, Psicológica e Sociológica
- Imitação como um ato que se impõem de fora
- Ao observar os Maori com o jeito não natural com que anda, conclui que inexiste um andar natural entre adultos
- Ato técnico, físico e mágico-religioso confundem-se para o agente.
- Modos de agir: técnicas do corpo: ato tradicional, eficaz: ato de ordem mecânica – homem difere-se do animal pela transmissão de técnicas.
- Corpo: primeiro e mais natural instrumento do homem.
- Adaptação constante a um objeto físico, mecânico ou químico (quando bebemos, por exemplo): Série de atos montados, pelo indivíduo, e nele mesmo, por sua sociedade: "Tudo em nós é imposto".

II – Princípio de Classificação das Técnicas do Corpo
- As técnicas dividem-se e variam por sexos e idades:
1) Técnicas dos homens diferem-se das técnicas das mulheres (2 sociedades): Fisiologia, Psicologia e Sociologia em um trabalho mútuo
2) Variação das técnicas do corpo conforme as idades: divisão presente em todas as sociedades (por exemplo: a posição agachada está presente nos atos dos adultos de todas as sociedades com exceção da nossa)
3) Classificação da técnica do corpo com relação ao rendimento: Adestramento (busca de aquisição de rendimento à técnicas normais humanas do adestramento humano); senso de adaptação de seus movimentos bem coordenados à objetivos ("habitus").
4) Transmissão da forma das técnicas: Educação física, em todas as idades e sexos, são modos de adestramento e imitação – ensino das técnicas.

III – Enumeração biográfica das técnicas do corpo:
1) Técnicas do nascimento e da obstetrícia: Coisas que consideramos normais, como o parto deitado, não são à outros. As técnicas do parto promovem o reconhecimento da criança
2) Técnicas da infância: Criação e alimentação da criança (ex: transporte da criança, desmame e após o desmame)
3) Técnicas da Adolescência: Momento decisivo; - apreendem as técnicas que conservarão durante toda a vida adulta
4) Técnicas da idade adulta:
a) Técnicas do Sono: Deitar na cama não é algo natural. Há uma distinção entre sociedades que dormem sobre algo e as que dormem no chão.
b) Técnicas de Repouso: Distinção entre sentado e cócoras.
c) Técnicas da atividade e do movimento: Ausência de repouso – coisas que para nós parecem naturais são históricas
d) Técnicas de cuidados com o corpo; e) técnicas do consumo; f) técnicas de reprodução (posições sexuais); g) técnicas de medicação do anormal (ex: massagens).

IV – Considerações Gerais
- Em toda parte há montagens físico-psico-sociológicas de série de atos habituais e antigos na sociedade, montados pela autoridade social e para ela.
- Em toda sociedade todos sabem e devem saber aprender o que fazer em todas as condições
- Causa sociológica nos fatos: princípio de exemplo e ordem
- Fatos psicológicos: engrenagens não causais, exceto no momento da criação – possibilidades psíquicas das mais diversas raças e povos frente a fenômenos biológicos e sociológicos.
- Educação: adaptação do corpo ao uso das técnicas – seleção em vista de um rendimento determinado
- Graças à sociedade que há uma intervenção na consciência, que dá firmeza aos movimentos e domínio do consciente.

Algumas Formas Primitivas de Classificação – Mauss e Durkheim

Algumas Formas Primitivas de Classificação – Mauss e Durkheim
Contribuição para o estudo das representações coletivas (1903)
Faculdades de definir, deduzir, e induzir são traços essenciais da humanidade, variando durante a história na maneira com a qual eram empregadas. A função classificadora não deixa de ser um produto da atividade individual. Classificar: separar em grupos distintos, separados por demarcações bem delimitadas. Em sociedades não ocidentais, as definições podem ter caráter mutáveis, inexistindo a noção de conceitos bem definidos. Em sociedades "menos evoluídas", o próprio indivíduo perde sua personalidade

Raça e História - Lévi-Strauss

Raça e História

Claude Lévi-Strauss

Capítulo 1. Raça e Cultura
1. O assunto de contribuições das raças humanas para a civilização mundial. Não se trata de trabalhar as contribuições dos grandes grupos étnicos para a civilização mundial.
2. Isso seria um racismo ao contrário. Ao caracterizar raças biológicas mediante propriedades psicológicas, afastamo-nos da verdade cientifica, mesmo que sejam caracterizadas de maneira negativa ou positiva. Gobineau via a miscigenação entre raças como um problema. O pecado original da antropologia fora a confusão entre a noção puramente biológica de raça e as produções psicológicas e sociológicas das culturas humanas, legitimando, involuntariamente, todas as tentativas de discriminação e exploração.
3. A originalidade dos diferentes continentes não se deve à sua habitação por troncos raciais distintos, mas antes pelas circunstancias geográficas históricas e sociológicas (e não as fisiológicas). O desenvolvimento diferenciado das sociedades, esta diversidade intelectual, estética e sociológica, não se liga às relações de causa e efeito presentes na biologia (é paralela em outro terreno). Cultura e raça, distinções: a) Existem muito mais culturas do que raças (pode haver dentro de uma raça culturas muito diferentes entre si, às vezes mais próximas até de culturas de outras raças); b) A cultura possui diversas subdivisões.
4. Em que consiste a diversidade? (risco de ver os preconceitos racistas transferidos da biologia para um novo campo). Como explicar os imensos progressos dos brancos se não existem aptidões raciais inatas? Resolver o problema negativo das desigualdades raciais e o das desigualdades (ou diversidades) culturais, relacionado no espírito público.
Capítulo 2. Diversidade das Culturas
1. Culturas humanas não diferem entre si do mesmo modo nem no mesmo plano. As sociedades estão justapostas no espaço, próximas ou longe, são contemporâneas. As atuais sociedades sem escrita (que chamamos de primitivas, selvagens) foram precedidas por outras formas: a diversidade da cultura é de fato no presente, de direito no passado, muito maior e mais rica do que estamos destinados a dela conhecer.
2. Que devemos entender por culturas diferentes? Sociedades que tiveram um contato íntimo parecem ser de uma mesma civilização, mas na verdade tem origens bem distintas. Operam simultaneamente, nas sociedades humanas, forcas que atuam em direções opostas, umas tendendo para a manutenção e mesmo para a acentuação dos particularismos, outras agindo no sentido da convergência e da afinidade.
3. A diversidade encontra-se não só na relação entre as sociedades, mas na diversidade interna dos grupos que a constituem.
4. Diversidade das culturas humanas: não deve ser concebida de maneira estática. Indubitável a elaboração de culturas diferentes por afastamento geográfico, propriedades particulares do meio, e ignorância dos que se encontravam no resto do mundo. Isso só seria rigorosamente verdadeiro se cada cultura tivesse desenvolvido em isolado de outras. Isso nunca ocorreu. Mesmo na América, houve isolamento de milhares de anos com o resto do mundo, mas um contato interno intenso. Há também as diferenças devidas a proximidade, não só ao isolamento, ex: desejo de distinção. A diversidade não é menos função do isolamento dos grupos, que das relações que os unem.
Capítulo 3. O Etnocentrismo
1. Diversidade cultural raramente surgiu como um fenômeno natural, sempre se viu, nela, um escândalo.
2. Atitude mais antiga, que possui fundamentos psicológicos sólidos: repudiar as formas culturais, morais, religiosas, sociais e estéticas mais afastadas daquelas com que nos identificamos. Ex: Bárbaro (para os greco-romanos) e Selvagem (na civilização ocidental). Recusa a admitir a diversidade cultural, prefere repetir a cultura que esteja conforme à norma sob a qual se vive.
3. Paradoxo na recusa: rejeitar o selvagem para fora da comunidade é a atitude mais marcante e distintiva desses mesmos selvagens. A noção de humanidade, englobando toda a espécie humana, teve aparecimento tardio e limitado. Tal noção esteve totalmente ausente durante dezenas de milênios, tanto que diversas populações se autodenominam os “homens”, renegando as outras tribos ou grupos os “maus”, os “perversos”, ou até mesmo privando-os da realidade: os “fantasmas”.
4. Paradoxo do relativismo cultural: Ao discriminar culturas e costumes que nos identificamos àqueles que tentamos negar, copiar-lhes as suas atitudes típicas. O bárbaro é em primeiro lugar o homem que crê na barbárie.
5. Mas a simples proclamação de igualdade, sem distinção de raças ou de culturas, soa como algo de enganador para o espírito, por negligencia uma diversidade de fato, que se impõe à observação.
6. Grandes declarações de direito do homem tem essa forca e fraqueza de enunciar um ideal muitas vezes esquecido: o homem realiza sua natureza nas culturas tradicionais, não numa humanidade abstrata. Mesmo com as mais diversas revoluções as culturas mantêm aspectos intactos. O homem tende a não perceber a diversidade das culturas procurando suprimir o escandaloso e chocante.
7. Falso evolucionismo: suprimir a diversidade das culturas em diferentes estágios de um desenvolvimento único. A humanidade torna-se una e idêntica, variando em estágios.
8. Proximidade com o darwinismo, mas é muito diferente o evolucionismo biológico do pseudo-evolucionismo supramencionado.
9. Noção de evolução biológica: hipótese dotada de grande probabilidade nas ciências naturais, já na evolução social ou cultural, um processo sedutor, perigosamente cômodo de apresentação dos fatos.
10. Anterior ao evolucionismo biológico, o evolucionismo social não é mais que uma maquiagem falsamente cientifica de um velho problema filosófico, no qual o processo de indução não possui qualquer certeza de um dia fornecer a chave.
Capítulo 4. Culturas Arcaicas e Culturas Primitivas
1. Qualquer sociedade pode sobre seu ponto de vista repartir as culturas em 3 categorias: a) as que são suas contemporâneas, mas estão em outro lugar do globo; b) as que se manifestaram aproximadamente no mesmo lugar, mas a perderam no tempo; c) existiram num tempo anterior ao seu, e em lugar diferente.
2. Desigualmente cognoscíveis. Culturas sem escrita, arquitetura e técnicas rudimentares (metade do planeta) tudo o que tentamos apresentar a seu respeito se reduz a hipóteses gratuitas.
3. Pelo contrario, tentador estabelecer entre as diversas culturas de “a” relações que correspondem a uma ordem de sucessão no tempo. O falso evolucionismo se deu livre curso – extraordinariamente pernicioso. O processo: tomar a parte pelo todo, em concluir o fato de duas civilizações (a atual e a desaparecida), oferecerem em alguns aspectos uma analogia em todos aspectos – geralmente desmentida pelos fatos.
4. Há semelhanças entre sociedades paleolíticas e indígenas contemporâneas. Como poderiam então ensinar-nos alguma coisa sobre a linguagem, as instituições sociais ou as crenças religiosas.
5. Ex: pinturas pré-históricas tidas como ritos de caça sem grandes análises.
6. Ex: A América pré-colombiana na véspera de sua descoberta evoca o período neolítico europeu. América: utensilagem licita perpetua-se em economia agrícola (Europa: o fazia no inicio da metalurgia).
7. Tentativas de reduzir as culturas humanas em réplicas desigualmente atrasadas da civilização ocidental chocam-se com outra dificuldade. Para admitir uma sociedade como “etapa” do desenvolvimento de outras, seria preciso que com as últimas acontecesse muitas coisas, enquanto nas outras nada, ou quase nada. Não há povos crianças, todos são adultos, mesmo os que não tiveram diários de infância.
8. Dois tipos de sociedades utilizando diferentemente o tempo: umas metiam o acelerador enquanto outras divagavam, duas espécies de história: Uma progressista, mas sem o dom, como a outra, sintético de acrescentar em cada inovação as anteriores.
Capítulo 5. A idéia do progresso
1. Considerando o segundo grupo, que precederam historicamente a cultura, estamos diante de uma complicada situação. Difícil contestação da hierarquização entre sociedades passadas, pelos fatos. Se há realmente um progresso nas formas sucessivas, dando tom de uma evolução, como isso não influenciaria a forma como tratamos as diferentes sociedades hoje?
2. Em primeiro lugar, não é tão fácil como se pensa ordenar os sociedades passadas em uma série regular e contínua.
3. Os períodos podem ter coexistido, não sendo etapas de um processo em sentido único, mas aspectos de uma realidade não estática, submetida a variações e transformações muito complexas.
4. Tudo o que é verdade para cultura é para as raças: o homem de neanderthal foi contemporâneo ao Homo Sapiens, ou este até mesmo precedeu aquele.
5. Não se trata de negar o progresso da humanidade, mas analisá-lo de maneira prudente. Recentes descobertas espalharam no espaço civilizações que eram escalonadas no tempo. Significa duas coisas: a) Progresso nem é necessário nem continuo, mas gerado por saltos, que nem sempre são ir mais longe na mesma direção, mas como cavalos de xadrez, varias progressões, nunca no mesmo sentido; b) a humanidade em progresso nunca se assemelha a uma pessoa que sobe uma escada, mas um jogo de dados, em que arriscamos ganhar ou perder, só raramente a historia é cumulativa (somas se adicionam para formar uma combinação favorável).
6. Esta história cumulativa não é privilégio de uma civilização ou período, ex: América e formações culturais grandes e diversas.
Capítulo 6. História Estacionária e História Cumulativa
1. Distinção entre as duas formas de historia depende da natureza intrínseca das culturas que esta se aplica, ou resulta de uma perspectiva etnocêntrica quando avaliamos uma cultura alheia? Consideramos assim como cumulativa uma cultura que se desenvolva num sentido análogo ao nosso, já outras parecem estacionárias, pois não é mensurável no sistema de referencia que utilizamos.
2. Também fazemos isso no seio de nossa própria sociedade. Ex: velhos e políticos – a historicidade, ou factualidade de uma cultura é função não de suas propriedades intrínsecas, mas da situação em que nos encontramos em relação a ela, do numero e da diversidade dos nossos interesses nela postulados
3. Diferença entre culturas progressivas e inertes é de localização. Analogia do trem. Deslocamo-nos com este sistema de referencias, realidades culturais de fora só são observáveis através das deformações por ele impostas.
4. Diferença entre “culturas que se movem” e que “não se movem” em analogia com o viajante que perceba um comboio se mover ou não. Culturas (contrário da fiísica): mais ativas se se deslocam no sentido da nossa, e estacionárias quanto mais divergente for sua orientação. Velocidade: valor metafórico, substituída por informação e significação. Os trens em direção ou velocidades diferentes aos nossos são vistos de maneira confusa, resumindo-se a uma perturbação em nosso campo visual, já não significa nada. M suma, a quantidade de informação suscetível de “passar” entre duas culturas está em função de sua maior ou menor diversidade.
5. Sempre que encaramos uma cultura como estacionária devemos atentar para se não estamos iludidos por nossa ignorância, por utilizarmos nossos próprios critérios.
6. Ex: sob o critério dos meios mecânicos os EUA apareceriam no topo, seguido dos europeus, e tendo os asiáticos e africanos como uma imensidão indistinguível atrás. De acordo com o ponto de vista escolhido chegaríamos a classificações diferentes.
7. Critério poderia ser o de aptidão para triunfar sob os meios geográficos. O ocidente, dono das máquinas, possui conhecimentos elementares sobre a utilização dos recursos do corpo.
8. Contribuições de outras culturas ao ocidente: famílias australianas; 9. Mais contribuições.
10. Não devemos reter nossa atenção nesses contributivos fragmentados, formando a errônea idéia de uma civilização mundial a moda de um fato de arlequim. Mais importante é a maneira como a cultura os retém ou exclui. Há uma originalidade em cada sociedade resolver seus problemas, mas podem ser aproximados, pois todos os homens possuem técnicas, arte, conhecimentos, crenças, organização social e política. A dosagem não é a mesma em cada cultura, etnologia: desvendar as origens destas opções do que traçar inventário de características diferentes.
Capítulo 7. Lugar da Civilização Ocidental
1.Civilizações reconhecem a superioridade de uma delas, a ocidental: países não reclamam o fato da ocidentalização, mas o fato de não terem os meios para ocidentalizarem-se rapidamente.
2. Dificuldades do estudo da universalização da civilização ocidental: a)fato único na história (precedentes estão na pré-história longínqua da qual pouco sabemos); b) incerteza sobre a inconstância do fenômeno: enquanto a civilização ocidental tende a expandir-se, as outras culturas tendem a manter sua herança tradicional. Processo a ser avaliado deve ter em mente que somos agentes, conscientes ou inconscientemente, auxiliares, ou vítimas.
3. Adesão ao gênero de vida ocidental: longe de ser tão espontâneo quanto pretendia-se.
4. Não seria a maior energia que levou-a a forçar o consentimento?
5. Valores mais manifestados na civilização ocidental, menos sujeitos a controvérsia: a) aumentar a co

Guerra e Paz – Casa Grande e Senzala e a Obra de Gilberto Freyre nos anos 30

Guerra e Paz – Casa Grande e Senzala e a Obra de Gilberto Freyre nos anos 30
Por Ricardo Benzaquen de Araújo
Capítulo: Corpo e Alma do Brasil

Gilberto inicia o livro com uma confissão racista que teve quando estava no exterior para, logo depois, refuta-la, citando as perspectivas antropológicas de seu professor, Franz Boas: "O critério de diferenciação fundamental entre raça e cultura (,no qual) assenta todo o plano deste ensaio". Desejo de romper com o racismo: recuperar positivamente as contribuições oferecidas pelas diversas culturas negras para a formação da nossa nacionalidade.
Para o real significado do seu ineditismo, verificar o que era escrito, antes de CGS, sobre a questão da Raça. Visitas de Agassiz e Gobineau: inviabilidade do país – a miscigenação levaria a esterilidade, senão biológica, ao menos cultural; outro ponto de vista: ver a miscigenação como capaz de levar o Brasil à redenção, superando sua questão racial ( graças ao branqueamento da população, tanto de espírito tanto de corpo, através de presumíveis 3 gerações). Ambas valiam negativamente o relacionamento com nossas heranças: postulação da supremacia branca da o sentido do argumento. Gilberto Freyre estaria mais próximo da primeira interpretação que da segunda.
Mas em CGS ele cria uma terceira posição: "distinguindo raça de cultura e por isso valorizando em pé de igualdade as contribuições do negro, do português e – em menor escala – do índio", visa superar o racismo da produção intelectual e construir outra versão de identidade nacional. Um passado minimamente aceitável ao Brasil, que não ficaria mais a espreita de somente se realizar no futuro (como eram os anseios desenvolvimentistas e racionalistas em voga). Criação de uma verdadeira identidade coletiva.
Sujeito também a críticas: Gilberto Freyre não estaria criando uma visão idílica de nossa sociedade colonial? Escondendo os problemas e mazelas sociais por debaixo de uma suposta "democracia racial". Mas existe outra crítica feita ainda a CGS, de que Gilberto Freyre não teria se abstido da idéia de raça e tampouco a separado da idéia de cultura. Existem várias partes do livro dotadas de uma lógica racial, com um vocabulário inclusive marcado pelo louvor à biologia, "que parece muito mais compatível com o determinismo racial do século XIX que com o elogio da diversidade cultural". Gilberto Freyre é de um modo contrario ao racismo poligênico, por acreditar na miscigenação, e ao monogênico, por dar crédito as contribuições dos negros e árabes. Faz uso, portanto, de um conceito de raça, entretanto não comprometido com seu sentido usual.
A inserção de um terceiro elemento, o do meio ambiente, serve de intermediário entre raça e cultura, "relativizando-os, modificando o seu sentido mais freqüente, e tornando-os relativamente compatíveis entre si". Isso porque Gilberto Freyre faz uso de uma noção neolamacrkiana de raça, ou seja, "baseando-se na ilimitada aptidão dos seres humanos para se adaptar às mais diferentes condições ambientais (...) capacidade de incorporar, transmitir e herdar as características adquiridas na sua interação com o meio físico". Garante portanto consistência, estabilidade e até perenidade à cultural, ganhando essa um compromisso biológico: A noção de raça não prejudica irremediavelmente a vocação cultural do conjunto da reflexão, mas que discorda, até certo ponto, da forma com que a teoria de Boas trata a cultura.

Adam Kuper – Antropólogos e Antropologia

Adam Kuper – Antropólogos e Antropologia
à Malinowski
Pai da Antropologia Social Birtânica? Houve uma revolução funcionalista, cujo líder foi Malinowski, mas que não estabeleceu uma teoria funcionalista como este propusera. Funcionalismo rejeitando o difusionismo e a teoria evolucionista: forte influência durkheiminiana.
Necessidade de se começar a colher os fatos: (neo)colonialismo poderia acabar com eles – ressurgimento do empirismo britânico. Análise sincrônica: enfoque funcionalista não desaloja as teorias evolucionistas e difusionistas, mas lhes acrescenta algo. Mas ele era cada vez mais indiferente com a questão das origens.
Importância a questão do método (ver resumo da introdução dos Argonautas...): captar a mentalidade nativa – diferenciar o que as pessoas fazem do que elas dizem estar fazendo (costumes organizam-se em um todo coeso em torno de atividades, mas os indivíduos, sempre que podem, os manipulam em seu benefício).
Mensagem do seu trabalho com dimensão política: se as culturas eram mecanismo delicadamente afinados para a satisfação das necessidades dos homens, então cada uma tinha seu valor è abordagem relativista.
Cada monografia interessava-se por um foco institucional: nunca descreveu a cultura trombiandesa como um todo pois lhe faltava a noção de um sistema, descrevia-a parceladamente.
3 aspectos centrais em suas monografias: a) aspectos da cultura não podem ser estudados isoladamente (necessidade do contexto de seu uso); b)As pessoas sempre dizem uma coisa e fazem outra; c) racionalidade do selvagem: tal como a nossa, manipula as possibilidade da maneira que lhe for mais vantajosa.
Cultura como todo integrado pois são unidades funcionais: todo e qualquer costume existe para preencher um propósito (significado vivo e coerente do costume para com os membros da sociedade) – resultados dos meios que os homens usam para satisfazer suas necessidades. Concepção própria de homem: realista, prático, razoável, falho de imaginação. Crenças e ritos aparentemente irracionais fazem sentido quando se aprecia seu uso.
A cultura existe para satisfazer necessidades, as quais decorrem da própria aquisição da cultura: mostre-me um complexo de costumes e decidirei intuitivamente a que necessidade esse complexo serve.
Acusado de ser indiferente com o desenvolvimento histórico: ele não estava preocupado com problemas de história.
Primeiro a mostrar o caminho em que o princípio de reciprocidade poderia servir para vincular o individuo, em seus próprios interesses, a comunidade.
à Radcliffe-Brown (RB):
Sociologia de Durkheim é sua maior influencia, embora tenha permanecido evolucionista na tradição de Spencer. Sociedades como organismos, devem ser estudadas pelos métodos das Ciências Naturais, evoluindo no sentido de diversidade e complexidade.
Após a IGM, coube a Mauss e RB perpetuar a obra de Durkheim, tendo RB trabalhado com o estudo das relações sociais.
Estrutura social: sistemas de relações de encadeamento entre indivíduos que ocupam papéis sociais: soma total das relações sociais de todos indivíduos num dado espaço de tempo. Não se trata de uma abstração, mas de realidade (criticado por essa afirmação). Forma estrutural explicada em usos, normas sociais (com as características dos fatos sociais de Durkheim). Uma vez extraída a forma social de uma certa quantidade de sociedades, passa-se a classificação e comparação (base do procedimento científico). Objetivo final: generalizações: leis sociais (ou seja, características comuns de todas as sociedades humanas). Estruturas sociais em fluxo, formas sociais eram comparativamente estáveis. Estabilidade depende da integração de suas partes e do desempenho por essas partes de determinadas tarefas que são necessárias à manutenção da forma.
Necessidade básica de todas as sociedades: ajustamento mutuo dos interesses dos membros da sociedade, padronização de comportamento: cultura. Só podemos estudar a cultura como uma característica do sistema social. Se estudamos a cultura estamos sempre estudando os atos de comportamento de um conjunto específico de pessoas que estão vinculadas entre si numa estrutura social.
Dinâmica de como as sociedades mudam de tipo eram logicamente seculdários, seriam deduzidos pelas leis da continuidade social. Mostrar como um uso social preenche uma dessas funções básicas, das quais depende a manutenção de formas sociais estáveis è Ele não era somente um funcionalista, mas também um estruturalista.
Sua especialidade era o sistema de parentesco: conjunto de usos sociais interligados que se baseavam no reconhecimento de certas relações biológicas para fins sociais. Eixo central era a família. Sua abordagem difere da do método clássico, recusando explicações especulativas e reducionistas. Irmão da Mãe: hipótese extensionista.
Sua preocupação final sempre fora a sociologia comparada
à As décadas de 1930 e 194 – Da função à estrutura (dos estudos malinowskianos aos estudos radcliffe-brownianos).
PErídodo funcionalista na década de 30 (MALINOWSKI) e período de uma onda de predominância de estudos neo-radcliffe-brownianos. Em parte, deve-se a mudança do trabalho de campo da Oceania para a África (estudo de sociedades em grande escala). Permanecia, porém, a ênfase malinowskiana pelo trabalho de campo por observação participante, como um ideal a ser seguido.
Problema básico da antropologia funcionalista (mais precisamente a antropologia malinowskiana) era do recorte: se está tudo relacionado, onde pára a descrição? Faltava uma teoria que explicasse o que era relevante e o que era periférico para a resolução de um determinado problema.
1ª Resposta: Bateson em Naven: questão da seleção e abstração – se fosse possível descrever a cultura pormenorizadamente nada pareceria diferente, estranho, mas seria tão natural como nossa própria cultura. Mas ele mesmo critica sua escassez de fatos, que nem conseguiria demonstrar sua teoria (dá importância às relações interpessoais: cismogênese)
2ª Resposta: Evans-Pritchard – Bruxaria, Oráculo e Magia entre os Azande: interesse pela cultura como um todo. Problema básico era de como podem seres racionais acreditarem em tais coisas. Escrito como que dirigido a um cético que Evans-Pritchar (EP) quer convencer: crenças como decorrência lógica, consistência intelectual dos zande.
Tom combativo à Malinowski: seleção de algumas de suas relações: enfoque institucional (sobre a magia) foi tipicamente malonowskiano, mas o método de abstração não o foi (seleção de relações a serem feitas).
Considera dois métodos de abstração:
a) Tratamento de apenas uma parte da vida social e de problemas particulares e limitados, tomando em consideração o resto a medida que for relevante para esses problemas (Malinowski e Mead)
b) Método estrutural: análise estrutural através da integração de abstrações provenientes da vida social (característica de EP nos Zande): estruturam uma análise convincente de uma vasta coleção de dados. Bruxaria como causa socialmente relevante do infortúnio.
Preocupação com a estrutura social e interesse por sistemas políticos e de parentesco. Aquilo que os autores haviam identificado na Oceania era apenas uma pequena parte dos mecanismos governamentais das sociedades africanas (amplitude política: urgência em resolve-los devido a necessidade das autoridades coloniais).
Ambição comparativa. Maior problema fora criado por sociedades que careciam de instituições políticas centralizadas: Os nuer.
Esses livros também apresentavam um afastamento da posição de RB: estrutura social passou a conotar a estrutura de relações entre grupos
Ver resumo sobre os Nuer (noção de equilíbrio: muito criticada por Leach).
EP adotou o ponto de vista de Durkheim e RB sobre o caráter das sociedades segmentarias, procurando a ordem no domínio dos valores compartilhados (a consciência coletiva). OS Nuer: exercício de abstração da estrutura social segundo um nível durkheiminiano de consciente coletivo: interesse em valores, argumentando que relações políticas são melhor enunciadas como tendências para ajustar-se a certos valores em certas situações, e o valor é determinado pelas relações estruturais das pessoas que compõem a situação.
Uso de uma noção amis refinada de estrutura: aceita a lógica de Bateson, transcendendo o realismo simplista de RB: Trata-se de uma abstração da realidade concreta, para escapar ao enfoque das relações interpessoais.
à Leach e Gluckman: para além da ortodoxia
Gluckman e Leach: rompem com a tradição (malinowski, RB e Evans-Pritchard), tanto no que diz respeito a uma estrutura impositiva como ao trabalhar com a relação entre povos, e não somente uma tribo isolada.
Problemática de considerar os dois em conjunto: Leach critica a noção de equilíbrio de Gluckman. Leach se considera um funcionalista, discípulo de Malinowski, mas consciente das limitações da teoria de seu mestre.
Leach e Gluckman, duas figuras intermediárias entre a geração pioneira e a do pós-guerra, interessavam-se em dilatar o âmbito e aumentar a penetração das teorias que tinham sido estabelecidas na década de 1930. Em uma frase: "o dinamismo central dos sistemas sociais é fornecido pela atividade política, por homens que competem entre eles para aumentar seus recursos e encarecer seu status, dentro do quadro de referência criado por regras requentemente ambíguas" (KUPER, 1978, p. 171)
Gluckman: Oposição segmentária na Zululândia pré-colonial produzia coerência e equilíbrio: conflitos eram positivamente funcionais, como a rivalidade Nuer. Vai além, ao contrastar este sistema estável com o que encontra em campo: oposição entre dois grupos não é equilibrada (um é superior: os europeus).
Análise de uma situação social na zululândia moderna vai além: Sociedade política plural formada por dominação colonizadora deve fornecer o quadro de referência para a compreensão dos sistemas "tribais" locais. Descrição do evento da ponte: diferentes grupos seriam obrigados a interatuar em esferas de interesse comum: "comportam-se da maneira como se comportam pois a ponte é o centro de seus interesses, associando-os em uma celebração comum" (KUPER apud GLUCKMAN, idem, p. 173).
Situação não era estável: resolução de conflitos necessitava de mudanças estruturais. Esse tipo de modelo contrasta com as sociedades Zulus pré-coloniais, caracterizada por sua reativa estabilidade. Equilíbrio social resultaria do equilíbrio de oposições no num processo dialético. Há conflito também no ritual, que ao expressa-lo purifica a sociedade.
Se inspira nos estruturalistas britânicos RB e EP: trata-se de um dos desenvolvimentos possíveis das teorias da ortodoxia britânica. Ponto mais fraco da teoria de Gluckman: idéia de sistemas sociais repetitivos em oposição aos variáveis . Levou-o a absurdos.
Sua análise de apenas uma situação social na Zululândia indica seu descontentamento com os modos convencionais de apresentação do material etnográfico ilustrativo. Inova ao trabalhar com o conflito e ao advogar pelo trabalho da situação política total.
Obs: Turner: Fissão na aldeia. Interesses entre homens membros de uma matrilinhagem conflitando com irmãos, maridos e cunhados. Luta de parentes para conseguir mulheres e seus filhos. Única unidade era a dos filhos de uma mãe (alvo do pai e do irmão da mãe). "Drama social" para apresentar o modo como os conflitos se resolviam: "conflitos manifestos punha a descoberto as tensões subjacentes do sistema social; portanto, dramatizavam as tensões inerentes à própria estrutura" (idem, p. 180). Turner reconhecia a influência de Gluckman. Foco no indivíduo, em seus papéis prescritos.
Leach: Sistema Político na Alta Birmânia – inutilidade de utilizar a definição de tribo para agrupar KAchin e Shan: eles devem ser vistos como compreendendo um único sistema social., mas não em equilíbrio. O equilíbrio ignora as inconstâncias, que podem ser justamente a chave para se compreender os processos de mudança social.
Ritual: expressa e reafirma um ideal do sistema de relações sociais aprovadas, e não tanto no sentido normativo. Análise estrutural e rituais das pessoas são abstrações idealizadas, tentativas de impor um "como se", ordem fictícia mas compreensível imposta ao fluxo da vida social. Busca de poder: série de opções que podem mudar a estrutura da sociedade.
Interesse por como os Kachin tornam-se Shan e vice versa: um tipo de sistema a transformar-se no outro. Dinâmica da mudança é fornecida por indivíduos disputando poder.
O modelo do antropólogo também está necessariamente muito distante dos fatos empíricos. É um modelo de equilíbrio "como se", diferindo unicamente do gênero de modelo usado pela próprias pessoas na precisão de suas categorias. "Para entender o fluxo real de relações sociais, o antropólogo deve considerar as anomalias e contradições, e observar como indivíduos ambiciosos estão manipulando os recursos políticos" (idem, p. 189).

Franz Boas – Os métodos da Etnologia

Franz Boas – Os métodos da Etnologia
1. Crítica tanto ao evolucionismo quanto ao hiper-difusionismo – diferente situação histórica quando do momento em que publicou "As limitações do método comparativo em antropologia", pois o evolucionismo já não é mais tão forte quanto era, havendo muito espaço para as teorias hiper-difusionistas.
2. Hipóteses fundamentais desses pontos de vista; evolucionismo: "curso das mudanças históricas na vida cultural da humanidade segue leis definidas", inerentes a todas as culturas, em que a nossa civilização ocidental seria superior a todas as demais culturas.
3. Hiper-difusionismo: A hipótese de que causas internas geram o mesmo desenvolvimento em diversas partes do mundo é rejeitada em nome da idéia de que um desenvolvimento que ocorra de maneira parecida em duas partes do planeta deve ser compreendido como originário de migrações ou difusões.
4. Validade dessas hipóteses não vem sendo demonstrada.
5. Frente a aplicação do novo método – que busca a compreensão dos fenômenos culturais de forma dinâmica as sociedades primitivas perdem a aparente estabilidade, aparecendo "num estado de fluxo constante e sujeitas a modificações fundamentais".
6. O novo método que se apresenta possui muitas dificuldades em sua aplicação, por isso não vem sendo muito utilizado, embora seja necessário começar a fazê-lo.
7. Nos eventos históricos "somos compelidos a considerar cada fenômeno não apenas como efeito, mas também como causa"
8. O indivíduo é influenciado pela sociedade ao mesmo tempo que a influencia: Como o indivíduo reage frente à totalidade de seu ambiente social
9. Em suma, o método "baseia-se num estudo das mudanças dinâmicas na sociedade que podem ser observadas no tempo presente. Abstemo-nos de tentar solucionar os problemas fundamentais do desenvolvimento geral da civilização até que estejamos aptos a esclarecer os processos que ocorrem diante de nossos olhos"
10. Conclusões – I: Não existe o determinismo psicológico como fundamentam os evolucionistas, mas cada grupo possuis sua história, única e própria, sujeita em partes as influências internas e parte a influencias externas.
11. Suposição de estabilidade de longa duração não possuem qualquer tipo de fundamento factual.
12. Freud: tenta mostrar que o pensamento primitivo é em vários aspectos análogo às formas de atividade psíquica individual que ele explorou com seus métodos psicanalíticos – a utilização unilateral desse método não gerará muitos avanços. Aplicar a teoria de desejos reprimidos às atividades dos homens pode não ser tão frutífero: existem outros pontos de influencia que merecem ser estudados com profundidade.

Seminário Franz Boas - Suas inlfuencias

Após a elucidação referente ao contexto histórico em que vivia Boas e aos resultados obtidos por alguns textos de sua obra – guiados essencialmente pela conceituação da cultura como uma totalidade, da qual originariam diferenças entre as diversas populações, não sendo tais características oriundas de raças – é imprescindível tratar das influencias que o autor teve no pensamento antropológico. Dentre o amplo quadro que se abre ao tentar explorar a questão, abordarei aqui os autores que tiveram contato direto com Boas, como alunos ou não, ou que pelo menos viveram na mesma época produzindo obras importantes.
O trabalho de Boas, conforme a introdução de Celso Castro no livro Antropologia Cultural, serviu muito mais como uma crítica aos métodos que eram utilizados anteriormente, o hiper-difusionismo, o racismo e o evolucionismo, construindo a noção de que cada ser humano vê o mundo sob a perspectiva da sua própria cultura.. À partir de tais pressupostos – que servem como embasamento teórico para que mais pesquisas possam ser realizadas – Kroeber, Lévi-Strauss, Ruth Benedict, Margareth Mead e Gilberto Freyre puderam realizar seus trabalhos.
Lévi-Strauss
A imagem do falecimento de Boas em uma refeição próximo ao então jovem antropólogo Lévi-Strauss é por demais significativa: a morte daquele que era considerado um dos pais fundadores da moderna teoria antropológica falecendo ao lado daquele que se tornaria um dos maiores – senão o maior – nome da antropologia no século XX. Lévi-Strauss desenvolveu seus trabalhos muito, de fato, à partir da concepção Boasiana de cultura e suas influencias nas diferenças entre os homens.
Em alguns de seus textos, podemos observar que Lévi-Strauss está desenvolvendo temas caros à obra de Boas. Por exemplo, pressupondo que todos leram e possuem os textos em mãos, em Os métodos da Etnologia, nos penúltimo parágrafo da página 45, Boas trata da aparência estática que as culturas "tradicionais" (não ocidentais) teriam segundo a utilização dos métodos ultrapassados, enquanto ganharia dinamismo com o método que propõem. Este tema volta a ser tratado por Lévi-Strauss em Raça e História, quando afirma que não existem culturas estacionárias.
Ou na página 96, do texto Os objetivos da pesquisa antropológica, em que Boas trata do problema e incerteza de explicar biologicamente as diferenças no desenvolvimento das diversas sociedades. Lévi-Strauss, por sua vez, trata disso de maneira muito precisa e detalhada no mesmo Raça e História. Poderíamos passar aqui dias tentando buscar as relações entre as obras de Lévi-Strauss e Boas, mas devido ao tempo, passarei a análise de um brasileiro, que foi aluno de Boas, e escreveu à respeito da formação multiétnica nacional, e exerceu grande influencia no modo de se pensar o Brasil.
Gilberto Freyre
Gilberto Freyre foi aluno de Boas nos EUA. No prefácio á primeira edição de sua grande obra, Casa Grande e Senzala, Gilberto afirma ser através do conceito boasiano de cultura que fará uma análise da formação multiétnica brasileira, a fim de romper com a tendência racista entre os intelectuais brasileiros: "A formação patriarcal do Brasil explica-se, tanto nas suas virtudes como nos seus defeitos, menos em termos de "raça" e de "religião" do que em termos econômicos, de experiência de cultura e de organização de família, que foi aqui a unidade colonizadora".
Entretanto a relação com Boas não é tão facilmente indicada. Objeto de muitas discussões, Renato Benzaquen de Araújo afirma que existem diversas partes do livro permeadas por uma lógica e vocabulário racial, compatível inclusive com o determinismo racial do século XIX, mais do que com o elogio da diversidade racial. Há, porém, um contraponto: a inserção de um terceiro elemento, o meio ambiente, que serve de intermediário entre raça e cultura, encarando a raça de maneira neolamarckiana, de modo a acreditar nas possibilidades de adaptação ao meio e transmissão desses caracteres. Estaria, então, a noção de cultura de Freyre não plenamente compatível com a de Boas, mas guardaria desta a desconsideração de um caráter racista na formação multiétnica brasileira.
Kroeber
Primeiro aluno a doutorar-se sobre a orientação de Boas, em uma tese referente as representações simbólicas entre os Arapaho. Funda o Departamento de Antropologia na Universidade de Berkeley e se destina a tratar das relações entre cultura e arqueologia.
Maragaret Mead
Aluna de Boas, ela compartilhava com seu professor um certo engajamento com as questões sociais de seu tempo. Foi responsável por utilizar uma linguagem que facilitava o acesso à Antropologia, e tratou de temas controvertidos, como a questão do gênero, da liberdade sexual, e dos problemas enfrentados pelos adolescentes, em meio a uma sociedade, pelo menos em 1935, conservadora. Uma de suas idéias era a de que os papeis sexuais eram determinados pelas expectativas sociais. Fez trabalho de campo em Samoa.
Ruth Benedict
Aluna de Boas, assistente de aula de Maragareth Mead – da qual se tornaria grande amiga - Ruth Benedict concentrou-se nos estudos sobre as diferenças culturais nos diversos pontos do mundo. Baseia-se bastante nos pressupostos e conceitos de Boas referentes a cultura para desenvolver seus trabalhos. Em Padrões de Cultura, livro que será tratado ao longo do curso, Benedict expressa claramente a sua fé no relativismo cultural de que trata Boas: cada cultura teria o seu próprio sistema imperativo de moral.
Edward Sapier
Lingüista norte-americano que foi influenciado pelo pensamento de Boas. Escreveu a respeito da influencia da linguagem na maneira como as pessoas pensam e sobre as linguagens das tribos indígenas americanas.

Resumo do caderno de Antropologia II

Resumo do caderno de Antropologia II
II – Escola estrutural-funcionalista britânica: antievolucionista, estudos sincrônicos, empírica, sistemas sociais e relação de poder
à Malinowski: Método etnográfico/observação participante
Funcionalismo utilizava o trabalho de campo como técnica, e criticava a antropologia precedente, princpalmente evolucionismo e difusionismo (criticados pelos funcionalistas pela arbitrariedade das categorias criadas, que geravam a fragmentação da cultura).
Quanto ao método, ver a introdução de Argonautas do Pacífico Ocidental (ver fichamento). O livro causara grande impacto. Seu método dá ênfase a longa estadia no campo. Urge o conhecimento preciso da língua, para entende-los em seu uso, diferenças. Trata-se de um contato com o nativo, isolado de outros ocidentais. O campo deve ser intensivo, extensivo e meticuloso. Com a monografia, cria um novo gênero etnográfico: ênfase no total, no fato social total. História: pensa o presente etnográfico, não sendo possível entender a historia dos grupos (diferente de Boas), era criticado, pois a cultura muda. Fazia uso de teorias da Escola Sociológica Francesa, funcionalismo (instituições desempenham funções de coesão social).
Teroai da sociedade como sistema integrado, um organismo. Busca-se a totalidade (idéia durkheiminiana). Uma instituição pode ter uma função latente: inconsciente pelo nativo, e uma função manifesta: nativo consicente.
Faz uma mudança do centro de referência da antropologia: a cultura do nativo, e não do sujeito observador: comparações com o ocidente são para o leitor compreender a sociedade nativa, e não a ocidental.
Idéia de consciência coletiva – relaciona idéias e instituições com o todo cultural.
Função: a) atividade desempenhada pelos membros da tribo; b) interconexão de algo que fundamenta a coesão; c) algo essencial para tribo
Encontra um fato social total : o Kula
à Radicliffe-Brown: não se considera parte da escola estrutural funcionalista. Segue uma linha durkheiminiana, utiliza a noção de função, o método bibliográfico, faz uma etnografia. Crê que a antropologia social estuda estrutura e funcionamento social. Cultura é parte da sociedade, indivíduo parte da cultura. Isolamento teórico de partes da sociedade, apesar de que se deve vê-la como um todo. Entre questões pariculares e método comparativo, opta pelo ultimo.
Antropologia social é ciência natural que estuda fenômenos sociais.
A rede de relações pode ser renovada, mas a forma estrutural geralmente não muda muito: a) morfologia: definição, estrutura, comparação; b) fisiologia: funcionamento das totalidades dos fenômenos sociais; c) transformação social: processos de mudança.
Interesse e valores dos indivíduos transpassam nas relações sociais. Crê na evolução social das estruturas.
Estrutura como organização sócia, posição social, discurso nativo acerca da organização social, totalidade social: sociedade como organismo (cada instituição tem sua função dentro da estrutura à mapa da organização social = empírica). Estudo da estrutura por meio do parentesco e da mitologia (ideologia do mito está iontegrada a estrutura social).
Sentimentos não são inatos, a sociedade molda os indivíduos. Cerimônia: manifestações coletivas da totalidade. Não compara costumes. Todas as instituições de uma única sociedade são estudadas em conjutno.
No estudo sobre o irmão da mãe, parte da genealogia e vê como se dão relações genealógicas e afins e a partir delas parte para questões estruturais. Dispositivo irmão-da-mãe é usado para explicar estruturas, como que possibilitaria fazer sociologia comparada entre povos.
à Evans-Pritchard: Ázande
Vê a pesquisa de campo como mais uma das técnicas da pesquisa antropológica. Representações coletivas.
No Cap 1 ("Bruxaria é um fenômeno orgânico e hereditário"): bruxaria orgânica (intestinos), e hereditária (dos pais para os filhos de mesmo sexo
Cap. 2: "A noção de bruxaria como explicação dos infortúnios": Relação causa-efito é compreendida. Bruxaria atribuída a infortúnios, coincidências nocivas. Bruxaria está presente em todas as atividades. Azande sabem como lidar com bruxaria, mas não discutem o tema. Bruxaria como "segunda lança" (a primeira é uma cabana cair, a segunda é as pessoas estarem ali naquela exata hora) – tabus. Não separam o natural do sobrenatural.
Cap. 3: "as vitimas de infortúnio buscam os bruxos entre os inimigos": Mortes atribuídas à bruxaria. Noção de bruxaria e estrutura social. Domínio dos pais e mães sobre filhos e filhas respectivamente, e dos aritocratas sobre os plebeus. Não existe mau absoluto: bruxaria envenena relações
CAp. 8 "Oráculo de veneno na vida diária": Método: observação participante embasada na teoria. Bruxaria: regulamento sócio-moral; hierarquia social; inimizades existem; adultério (controle dos homens).
Outras racionalidades: mecanismos, infortúnios: Não tão coercitivos como em Durkheim. Há noção de função (social como organismo). Contemporâneo de BAteson, ponto em comum: emoções, relações constroem o social. Parte das formulações nativas (bruxaria é orgânica e hereditária) como teoria, e mostra como se vive a partir dessa teoria (vida cotidiana, relações interpessoais, práticas, regulação).
Bruxaria é generalizada, não individualizada. Na teoria social zande, bruxaria reflete jogo social (mecanismos de organização da sociedade: localização, inimizades, hierarquia). Bruxaria descreve infortúnio e cria meios de combate-la. Associação de fenômenos (causa e efeito mais infortúnio). Estamos diante de um sistema de micropolítica: aspectos sociais distintos.
Antropologia, sociologia do conhecimento. Não despreza registro históricos. Bruxaria é função dos jogos interpessoais. A esfera dos oráculos não é separada da vida cotidiana.
à Evans-Pritchard: Os Nuer
Chefes de pele de leopardo: importância nos rituais mas sem autoridade.
Capítulo "tempo e espaço": ponte entre capítulos de ecologia e economia para os relacionados a linhagem e território. Relatividade social; fissão e fusão. Confições físicas econômicas (ecológicas) limitam normas sociais que podem aparecer, mas não são determinados. Tempo e espaço são determinados pela ecologia e também pela estrutura social. Tempo ecológico: relação de elementos naturais com significação social. Tempo estrutural: determinado pelas interrelações estruturais.
Ano cíclico – tempo ecológico. Ciclo diário: atividades, tempo estrutural, passagem do tempo é a relação entre estas atividades diárias: tempo não é contínuo. Tempo estrutural: pontos de referencia. Conjuntos etários: fixa, não-cíclicos. Ordem de parentesco: distancia dos ancestrais comuns. Estrutura: constante, então tempo estrutural não passa. Indivíduos vivem e morrem mas a estrutura não se altera. Tradição:historia se transforma em mito. Espaço estrutural: relativo a organização estrutural (não a distância real).
Sistema político: Ecologia: vida social depende do gado. Sociedade se estrutura em torno da criação de gado. Categorias: segmentariedade dos Nuer: pertencimento à grupos: é relacional nas situações de conflitos. Movimentos de fissão, fusão – equilíbrio.
Em caso de homicídio ocorre a vendeta (ou doação de gado), mas no caso de aldeia há relações de parentesco – chefe pele de leopardo faz a intermediação entre grupos em conflito. Quanto mais distante da aldeia mais difícil de exigir pagamento de gados, pois não há poder central.
Organização política em aldeia é mais coesa, pois todos são relacionados (cada nível mais baixo nas divisões e subdivisões, o grupo é mais coeso, então a mediação é mais fácil). A coesão as vezes so aparece em situação de conflito externo. Não possuem um sistema jurídico como nós, mas a confiança no chefe de pele de leopardo, grupos, etc... é uma forma de lei. Sociedade acéfala: sem chefe.
Linhagem: relações agnáticas de ligação com ancestral. O clã principal dá nome a aldeia. Parentesco da mãe: outros clãs moral lá (não há diferença na vida cotidiana). Clã superior existe pois, como não há centro de poder político, serve como modelo. Sistema político segmentado é relacionado a linhagem agnática. Estrutura é empiricamente observada. Identificação política é territorial
Em suma: Noções de tempo-espaço: configurações destes elementos pelas relações sociais (ecológico com forte ligação com o estrutural). Difere de Durkheim, pois busca condicionantes da vida. Nas aldeias, conflitos intermediados pelo chefe de pele de leopardo. Política emana da estrutura. Trata-se de um projeto estrutural-funcionalista e comparativo (acahr o que é comum a todas as sociedades humanas). Afasta-se de Radcliffe-Brown, pois se preocupa com a maneira como a vidad é vivida (jogo político) e não só estruturas. Ênfase na linguagem.
à Max Gluckman
Análise de uma situaão social na Zululândia moderna: adaptar o paradigma estrutural-funcionalista para sociedades modernas. Questão do conflito (a partir da 2ª geração: como o jogo político é vivido). Conceito de situação social: eventos observados pelo antropólogo e a partir daí desdobra-se as implicações do que estava acontecendo, no âmbito das relações sociais, entre os dois grupos (no caso, a construção da ponte) = estudo de caso que possibilitam a análise de interações entre atores sociais. Assim como Leach, busca superar a ortodoxia (evans-Pritchard, Malinowski, Raddclife-Brown), tratam do conflito e competição e do ator que se interessa em galgar posições melhores.
Dinamismo central dos sistemas sociais é a atividade política por homens que lutam por poder e status dentro do quadro sociais, por vezes ambíguo. Para apreender o papel que lideranças africanas tem na África moderna lança mão do conceito de situação social.
Situação social na Zululândia: Critica a antropologia social britânica no que diz respeito à noção de estrutura. Crítica a identificação automática dos indivíduos na sociedade. Novo tipo de análise: método de etnografia. Interpretações de sua obra afirmam que ele demonstra a impossibilidade de se estudar grupos sociais isoladamente.
Escola de Manchester à rede (bastante empírica). Nasce em meio ao apartheid, sua noção de situação social mostra que o que existe é encontro (contato organiza a vida moderna na África) de grupos, e não separação. Caráter político do estudo: há situações de encontro, aparato administrativo colonial. Possibilidade de comparação : instituições participantes da mudança, mudança dos atores.
à Edmundo Leach: Sistemas Políticos da Alta Birmânia
Preocupação com a ação dos indivíduos dentro das estruturas (compreendidadas como configurações momentâneas). Conflito das normas e manipulação. Perspectiva histórica: mudança. Objetivo empírico ampliado. Modelo funcionalista que inclui mudanças: modelo como busca pelo equilíbrio (equilíbrio, integração do sistema, dinamismo dos sistemas sociais).
Mudança ocorre pela ação dos indivíduos quando estes mudam de posição: mudança intrínseca a posição social. Normas seriam ideais instáveis baseados em configurações momentâneas. Afastamento do modelo de Durkhim. Ritual como afirmação do status e estrutura social.
Alta Birmânia: Cham (plantadores de arroz) e Kachin (colinas): esses dois sistemas para Leach seiam o mesmo e se articulam, estão em equilíbrio.
Ritual (ação) e mito (palavras): explicação simbólica da sociedade (indivíduos que buscam status). Antropologia social anterior: estudava sociedades em equilibrio, isoladas: sociedades não estão em equilibrio, estruturas (abstratas) sim. Cultura pode variar, sem no entanto sistemas mudarem.
à Victor Turner: O processo ritual
Estrutura e processo. Liminariedade. Teoria é abrangente, estrutura maleável. Ritual: drama social. Performance. Communitas: circunstanciado pelas regras sociais. Estrutura e antiestrutura.
Aluno da Escola de Manchester, considera a noção de estrutura. O campo de experimentação social (espaço e ritual) é a antiestrutura, que possibilita a mudança. Processo, dinâmica.
Teoria do ritual: separação da vida cotidiana. Ritual de consagração da vida social (esta é revigorada por meio dos rituais): dinâmico
Se em Leach o mito justifica a facção e mudança social (mitos como retórica política) em Turner uma antropologia não cientifica, em que a estrutura é entendida do ponto de vista da anti-estrutura: estrutura muda na communitas.
à Mary Douglas: religião comparada: aluna de Evans-Pritchard. Produções simbólicas estudadas como representações sociais. Relações sociais são relações de poder. Transferiu conhecimentos feitos a partir de estudos de sociedades não ocidentais para o ocidente.
Introdução: Descarta o medo como parte das religiões primitivas. Higiene: sujeira é desordem (rituais de pureza e impureza criam unidade na experiência). Pureza/impureza, ordem/desordem.
Capítulo 6: poderes e perigos. Desordem como poder e perigo> pureza e impureza à rituais e status. Marginalidade (poluição e purificação): poder e perigo, afastamento do corpo social. Poder: 1) Controlado; 2) Descontrolado; 3) descontrolado por infração à estrutura. Tanto o poder consentido como o poder não-controlado atuam como controladores sociais.
Trata-se de uma análise da dimensão social, estrutura. A definição da ordem mostra o que é desordem. Desordem é espaço que revigora a sociedade, anti-estrutura é perigo. Antinomia reconhecida no espaço da desordem como explicativo da ordem, através do estudo do simbólico. Desordem é destrutiva para ordem, mas é necessária para sua manutenção. Desordem é perigo e poder. Poder: sociedade X amorfia circundante (poder emana da experiência liminar). Estrutura introjetada no individuo (cita Goffman).Com sua visão de estrutura atenta para visões parciais.
Capítulo 7: Limites externos: Corpo como representação para explicar a estrutura social. Impureza (contextualização do que é). Rebate análise dos rituais feitas por psicólogos. Ex etnográfico: sistemas de castas na Índia (impureza das classes inferiores).
Aula:
Tema do simbolismo. Estrutura social lida através dos símbolos (rituais, modificações do corpo). Leitura durkheiminiana: coerção social afeta a percepção do mundo que os indivíduos tem (sociedade se projeta no individuo, o antecede).
Acréscimo de Douglas: 1) Margem (não estrutura) é tão elucidativa para a compreensão do social quanto a estrutura; 2) A partir das zonas de impureza se entende perigos e possibilidades à estrutura.
Turner e Douglas: anti-estrutura não é regrada.
Faz monografia sobre os Lele. Antropologia comparada que, a partir da religião, se propõe a estudar as questões postas pelo ocidente (mundo judaico-cristão). Explicitação da ordem feita através da proibição (impureza, desordem). Corpo como plano de análise para antropologia (uma vez que ela estuda o simbólico). Estrutura: definição, portanto, negativa: " I am not usually refering to a total structure which embrances the whole of society continually and comprehensively". Definição positiva: "particular situations in which individual actors are aware of a greater or smaller range of inclusiveness"
Abordagem holística das classificações. Antinomias: pureza/perigo, forma/amorfia/ ordem.desordem: os dois pólos são elucidativos para se entender o social. Mundo é potencialmente caótico: qualquer experiência humana ocorre com definição da ordem social e exclui elementos possíveis: Estuda os resíduos da desordem, daquilo que é excluído da ordem.

LÉVI-STRAUSS, Claude. Antropologia estrutural dois. Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro, 1976 - Capítulo VIII: Reflexões sobre uma obra de Vladimir Propp

LÉVI-STRAUSS, Claude. Antropologia estrutural dois. Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro, 1976
Capítulo VIII
A ESTRUTURA E A FROMA
Reflexões sobre uma obra de Vladimir Propp
Estruturalismo, ao inverso do formalismo: recusa opor o concreto ao abstrato, e não reconhece no abstrato um valor privilegiado. Forma: se define por oposição a uma matéria que lhe é estranha. Estrutura: não tem conteúdo distinto, “ela é o próprio conteúdo, apreendido numa organização lógica concebida como propriedade do real” (p.121).
Não intenta que se pense o estruturalismo moderno ou a linguistica estrutural como prolongamento do formalismo russo: por pouco que o estruturalismo se afasta do concreto, muito a ele reconduz.
Veselovsky: Tema se decompõe em motivos, elemento irredutíveis aos quais o tema acrescenta uma operação unificante, integrando-os. Propp: assim, cada frase constitui um motivo, assim a análise dos contos conduzida em um nível “molecular”, embora nenhum motivo possa ser considerado indecomponível. Propp obtem, então, unidades menores que os motivos, e cuja exsitência lógica não é independente. Aqui está uma das principais diferenças entre formalismo e estruturalismo
Hipótese sobre a qual repousa seu trabalho: contos de fadas são uma categoria especial de contos populares. Os enunciados contém variáveis e constantes: personagens e atributos mudam, ações e funções não. Elementos constantes considerados como base, desde que o número de funções seja finito.
Funções: unidades constitutivas do conto; personagens: suporte das funções. Função definida de acordo com sua situação na narrativa. Consideremos uma função situando-a em relação a seus antecedentes e conseqüentes: “a ordem da sucessão das funções é constante” (p.125). Cada conto pode não fazer aparecer a totalidade das funções enumeradas, sem que a ordem de sucessão seja modificada. Sistema total de funções parece ter o caráter em Propp do que hoje chamaríamos de “metaestrutura”.
“Encarados do ponto de vista da estrutura, todos os contos de fadas se reduzem a um único tipo (PROPP apud LÉVI-STRAUSS, p.125) . Aproxima-se de Durkheim ao afirmar que é a qualidade, e não a quantidade da análise que importa.
Cada função é resumida em um único termo. Conclusões de Propp: 1.Número de funções é limitado; 2. As funções se implicam lógica e esteticamente, articulam-se todas sobre o mesmo eixo, duas funções quaisquer não se excluem jamais mutuamente. “Pares de funções, sequencias de funções, e funções independentes se organizam em um sistema invariante” (p.127).
Propp resolvendo diversas dificuldades: 1. Assimilação de uma função pela outra; 2. Conto analisado em funções deixa subsistir uma matéria residual à qual não corresponde nenhuma função (propõe dividir este resíduo em duas categorias não-funcionais: “ligações” e “motivações”).
Ligações: Episódios que servem para explicar como o personagem “A” toma conhecimento das ações de “B”: estabelece uma relação imediata entre os personagens ou entre personagem e objeto.
Motivações: razões e propósitos em virtude dos quais agem os personagens. Podem se resultar de uma formação secundária, pois é comum nos contos as ações dos personagens não serem motivadas.
Resultado: assim como as funções, os personagens do conto também são limitados: sete protagonistas. Volta ao problema inicial da obra: relação entre conto de fadas e conto popular em geral; e classificação dos contos de fadas constituídos como categoria independente.
Propp e Lévi-Strauss: não há razão para isolar contos dos mitos, ainda que muitas sociedades percebam uma diferença subjetiva entre os dois; ainda que prescrições e proibições vinculem-s, às vezes, a um e não a outro (recitação dos mitos em um tempo determinado, enquanto os contos, por natureza profanos, podem ser narrados a qualquer tempo).
“Narrativas com caráter de contos numa sociedade, são mitos para uma outra e inversamente” (p.134). Por outro lado, as mesmas narrativas, motivos e personagens encontram-se, em forma idêntica ou transformada, nos mitos e contos de uma população.
As sociedades que o percebem como distintos o fazem por uma dupla diferença de grau: 1. Os contos são construídos sobre oposições mais fracas que os mitos; 2. O conto consiste em uma transposição enfraquecida cuja realização amplificada é prórpia do mito (conto menos estritamente sujeito do que o mito à uma tripla relação da coerência lógica, ortodoxia religiosa e pressão coletiva). Conto: mais possibilidade de jogo, permutas mais livres, com mais arbitrariedade.
Contos como imperfeitos para a análise estrutural. Necessitamos compreender o porque de suas escolha. Além de já ser um objeto clássico de seus antecessores e de Propp não ser um etnólogo, cremos que foi por seu desconhecimento das verdadeiras relações entre mito e conto: Dizia Propp que para estudar o mito seria necessária uma análise histórica, talvez muito difícil por sua distância. Sugere que os contos populares tem sua origem em mitos mais arcaicos.
Etnológo desconfiaria de sua afirmação, pois sabe que mitos e contos existem, lado a lado. Só seria válida a afirmação de Propp para contos que são o legado de mitos que já caíram em desuso. Lévi-Strauss: relação de complementariedade: contos são mitos em miniatura, mesmas oposições transpostas em pequena escala.
Propp: dividido entre sua visão formalista e a obsessão por explicações históricas. Propp é vítima de uma ilusão subjetiva: não esta dividido entre exigências da sincronia e as da diacronia: não é o passado que lhe falta, mas o contexto.Dicotomia formalista, que opõe forma e conteúdo, os definindo por caracteris antitéticos, foi lhe imposta por sua escolha de um domínio em que somente a forma sobrevive, enquanto o conteúdo é abolido.
Essencial: resumo da diferença entre formalismo e estruturalismo: “para o primeiro (formalismo), os dois domínios devem ser absolutamente separados, pois somente a forma é inteligível, e o conteúdo não é senão um resíduo desprovido de valor significante. Para o estruturalismo, esta oposição não existe: não há, de um Aldo, o abstrato e, de outro, o concreto. Forma e conteúdo são de mesma natureza, sujeitos à mesma análise. O conteúdo tira sua realidade da estrutura, e o que se chama forma é a “estruturação” das estruturas locais que constituem o conteúdo” (p.138)
A não ser que se reintegra o conteúdo na forma, a forma fica em tal nível de abstração que perde todo seu significado, fica sem valor heurístico. Antes do formalismo ignorávamos o que os contos tinham em comum. Depois do formalismo, não podemos entender em que diferem. “Passou-se do concreto ao abstrato, mas não se pode mais voltar do abstrato ao concreto” (p.139). Haveria então um púnico conto. Se reduziria a uma abstração tão vaga e geral que nada nos ensinaria sobre as razões objetivas de existirem uma infinidade de contos particulares.
Prova da analise na síntese: esta é impossível pois a análise ficou incompleta: “nada pode convencer melhor da insuficiência do formalismo do que a incapacidade em que se encontra para restituir o conteúdo empírico de onde, todavia, partiu” (p.141). Perdeu o conteúdo no meio do caminho. Propp conclui a permutabilidade, por vezes arbitrária, do conteúdo dos contos.
Compreender o sentido de um termo é sempre permutá-lo em todos os seus contextos. Na literatura oral, esses contextos são fornecidos pelo conjunto das variantes, pelo sistema de compatibilidades e das incompatibilidades que caracteriza o conjunto permutável. Universo do conto: analisável em pares de oposições diversamente combinados no cerne de cada personagem, que, longe de constituir uma identidade, é como um “feixe de elementos diferenciais”.
O exame atento dos contextos permite eliminar falsas distinções. A pretendida Permutabilidade do conteúdo não equivale a um procedimento arbitrário, é o mesmo que dizer sob a condição de estender a analise a nível suficientemente profundo encontrar-se-à constância por trás da diversidade. Inversamente, a pretendida constancia da forma não nos deve enganar quanto ao fato de que as funções são também permutáveis.
Estrutura do conto, conforme Propp: sucessão cronológica de funções qualitativamente distintas, cada uma sendo um gênero independente . Várias das funções que distingue parecem redutíveis, asimiláveis a uma mesma função. “Ao invés do esquema cronológico de Propp, onde a ordem de sucessão dosa contecimentos é uma propriedade da estrutura, seria necessário adotar um outro esquema, apresentando um modelo de estrutura definida como o grupo de transformações de um pequeno número de elementos (...) aparência de uma matriz de duas ou três dimensões, ou mais” (p.143)
No sistema mítico: narrativa está no tempo (se passa em determinado momento) e fora do tempo (seu valor é sempre atual). Nos permite observar melhor que Propp o seu próprio princípio: permanência da ordem de sucessão, “e a evidência empírica dos deslocamentos que observamos, de um conto a outro, em relação a certas funções ou grupos de funções” (p.144)
Retomemos os dois pontos essenciais da discussão: 1. Constancia do conteúdo; 2. Permutabilidade das funções. Fundo do problema é pressentido por Propp: “Por detrás dos atributos inicialmente desdenhados como um resíduo arbitrário e privado de significação, ele pressente a intervenção de “noções abstratas” e de um “plano lógico” cuja existência, se estabelecida, permitirá tratar o conto como mito” (p.145).Quanto ao segundo problema: variedades de uma função estariam ligadas a certas variedades correspondentes de outras funções?
Necessidade de atingir a explicação dos mitos por meio de um estudo sociológico das sociedades em que ocorre. Erro duplo do formalismo: prendendo-se ás regras que comandam a combinatória das proposições, perde de vista que não existe língua da qual se possa deduzir o vocábulo à partir da sintaxe. Este primeiro erro é explicado por não reconhecer a complementaridade entre significante e significado.
Metalinguagem: formada pela assimilação das formas da linguagem: estrutura é operante em todos os níveis. Por essa propriedade são contos ou mitos, e não vistos como narrativas históricas.
Linguagem e metalinguagem de cuja união nascem contos e mitos possuem níveis em comum, embora estejam em planos diferentes. “Mesmo permanecendo termos do discurso, as palavras do mito funcionam aí como feixes de elementos diferenciais” (p.148)
Esta diferença não se dá no âmbito do quantitativo, mas no do qualitativo. Diferenças entre: a) fonema: elementos desprovidos de significação que servem para diferenciar termos, as palavras que possuem, ele mesmo, um sentido; b) Mitemas: resultam de um jogo de oposições binárias ou ternárias, mas entre elementos já carregados de significação no plano da linguagem – “representações abstratas” de que se refere Propp e que se exprimem com palavras do vocabulário.
Nada dos contos e mitos pode ser estranho à estrutura. Erro do formalismo = crer que se possa começar pela gramática e adiar o léxico. Em análise estrutural gramática e léxico aderem um ao outro sobre toda sua superfície e se recobrem completamente.