terça-feira, 1 de novembro de 2011

LÉVI-STRAUSS, Claude. Olhar, escutar, ler. Campanhia das Letras, São Paulo, 1997.

LÉVI-STRAUSS, Claude. Olhar, escutar, ler. Campanhia das Letras, São Paulo, 1997.

Olhando Poussin

I - La recherche, “feita de pedaços escritos em circunstâncias e épocas diferentes” (LÉVI-STRAUSS, 1997, p. 10). Proust os dispõe em uma ordem satisfatória. É uma técnica de colagens e montafens, que faz da obra o resultado de uma dupla articulação. As unidades de primeira ordem são já elas mesmas obras literárias, “combinadas e dispostas para produzir uma obra literária de um nível mais elevado” (idem, p. 10). Um mosaico cujas peças que o compõem permanecem reconhecíveis e mantem sua individualidade.

II - O mesmo pode ocorre na pintura. Lévi-Strauss fala da obra de Seurat, Grande Jatte: conjuntos independentes de figuras: “justapõe persongens ou grupos de personagens imóveis em seu isolamento e que nem mesmo parecem conscientes da presença uns dos outros” (idem, p. 11). Procedimento de composição presente também na arte japonesa de Hokinsai – tal como Proust, reutilizou e justapôs papéis em detalhes.

Poussin utiliza o procedimento da dupla articulação de maneira bem diversa, trabalhando com figuras mineralizadas. Impressão de que ele reinventa a pintura. DEclacroix afirma que Poussin jamais buscou a perfeição, colocando figuras umas ao lado das outras como estátuas. “um método de composição assimilado tão perfeitamente que se torna praticamente um modo de pensar” (idem, p. 13). Ele prepara caminho para escolas modernas no sentido emq eu rompe tradições.

III - Contra a interpretação de Panofsku, LS faz uma série de análises sobre as variações estruturais entre as obras Os Pastores da Arcádias, Les bergers d’Acrcadie, mostrando as variações das figuras, de suas posições e da caveira

IV - Análise do quadro Eliezer ET Rebecca, passagem bíblica.

V - Questão da ausência dos camelos. Hoje as questões não fazem tanto sentido pois estamos mais distantes da antiguidade clássica do que os homens do século XVII. Falar que imitar a realidade a ponto de nos confundir é um comum julgamento estético, que até recentemente prevaleceu. Imitação do real é o que Diderot admira em Chardin. Pasacal: “que vaidade é a pintura, que chama a atenção pela semelhança de coisas cujos originais não são objeto de nenhuma admiração” (idem, p. 24).

Impossível se escapar do problema da arte imitando a naturesa, o tompe-l’oeil exerce, como sempre, domínio sobre a pintura. Duchamp “pensou despojar a pintura de suas pretensões figurativas” (idem, p. 25) [arte figurativa: se desenvolve principalmente na pintura pela representação de seres e objetos em suas formas reconhecíveis pelos que olham. No ocidente só perde sua soberania no século XX, com a arte abstrata].

Um trabalho intelectual é o que forma os encanos da trompe-l’oeil, mediante procedimentos técnicos. Não é por acaso que triunfa na arte morta: demonstra a alma em objetos inanimados. O impressionismo achou que suprimia o trompe-l’oeil, colocando a diferença entre subjetivo e objetivo. Mas sua ilusão foi achar que se pode instaurar de modo duradouro entre os dois.

Em vez de crer que a arte de trompe-l’oeil sucumbiu diante da fotografia, melhor seria reconhecer que elas possuem virtudes invertidas entre si” (idem, p. 26). Ver último parágrafo da p. 26 (interessante)

VI

Quadro de Poussi nenhuma parte é desigual em relação ao todo, cada uma delas é uma obra prima, sendo interessante também otomá-las a parte: “o quadro aparece como uma organização em segundo grau de organizações já presentes em cada detalhe” (idem, p. 28): figura e o todo são cuidadosamente pensados. Poussin faz uma seleção e recomposição meditadas.

Olhando sobre os objetos

XXII - “Arte dos povos sem escrita não remete apenas à natureza ou á convenção, nem ás duas juntas. Remete igualmente ao sobrenatural” (idem, p. 121). O Ocidente, que não mais vê o sobrenatural, colocamos em seu lugar símbolos ou personagens humanos enobrecidos. – regras através das quais se exprime uma realidade vivida, mas jamais substituindo a experiência.

Música popular para a música erudita tal como a arte decorativa para representativa. Música popular anterior a erudita, por analogia, consideraríamos que a arte decorativa precede a representativa: mas isso não é verdade, pois para se desenvolver a música precisou de um sistema de notação – diferente das artes plásticas.

Por quê a música precisava de uma escrita se sem ela a expressão oral fez grandes obras? Música urge por uma linguagem adequada que não pode jamais sê-lo de maneira plena, pois há uma descontinuidade na notação musical em relação a continuidade do discurso musical.

Dois sentidos para “arte primitiva”: quando os meios técnicos impedem o artista de chegar ao objetivo que se propõe. “Ou quando o modelo presente no espírito do artista, sendo sobrenatural, escapa por essência aos meios sensíveis de representação” (idem, p. 123).

Música erudita tem os dois aspectos de arte primitiva, a começar pela própria defasagem do sistema de notação. “mMúsica não possui um vocabulário que conote os dados da experiência sensível” (idem, p. 124): seus sons e acordes não são encontráveis na natureza: ela escapa da figuração. Por isso ainda entre nós é uma arte primitiva.

Boas, sobre as perneiras entre tribos na Colúmbia Britânica: ritmo decorativo das linhas é o mesmo da de passos de dança. Segundo Boas, a base da atividade estética estaria na regularidade, simetria, ritmo – sempre “ligada uma satisfação de ordem intelectual” (idem, p. 125). Isso vale para matérias, formas, cores e durações, timbres, acentos, orientações no espaço e tempo. Repetição essencial para expressão simbólica.

Deve-se procurar saber por quê, no espírito do compositor, as permutações que ele selecionou formam um sistema e outras, não (...) vários arranjos que teriam satisfeito exigências de regularidade, simetria e ritmo eram possíveis. O problema não é portanto saber se há regularidade, simetria e ritmo, mas por que o artista preferiu este ou esta àquele ou àquela” (idem, p. 126).

XXIII - Cestaria não tem para nós a importância que tem para muiitos povos sem escrita. Ambiguidade com relação a este objeto: no mesmo plano dois aspectos, um funcional e outro decorativo. (convém falar decorativo?). É comum os espíritos habitarem objetos manufaturados. Série de mitos que se referem a objetos que se revoltam contra os donos, censurando os humanos por sua crueldade, unem-se contre ele, exterminando-o.

XIV - No lugar onde o homem ocidental fala em sentido figurado, os povos sem escrita falam em sentido próprio: assim podemos “poercebê-los menos afastados de nós, ou nós mais próximos deles” (idem, p. 135) [ talvez seja esse o mote de tratar da arte indígena num livro que falou tanto de arte ocidental: mostrar que existe uma estrutura, um modo de pensar do ser humano, independente de ser ocidental ou indígena.

Existem vários mitos que atribuem origem sobrenatural às belas-artes. Nesses mitos “é a comoção estética provocada por um espetáculo bem-feito que valida retroativamente a crença em sua origem sobrenatural” (idem, p. 137). Nós também não estamos contenando a morte física (economia e social) artistas pois não consideramos que eles elevem-nos acima de nós mesmos. Não suporíamos ainda hoje uma ligação entre arte e sobrenatural? O divino Rafael, falar em out of this world. Talvez as crenças e atos que nos choquem, vindos do outro, são muito mais semelhantes as nossas.

Obra só se perpetua dando origem a oturas obras. “O tempo não acresceta nem subtrai coisa alguma aos amores e aos ódios sentidos pelos homens, nem aos seus compromissos, suas lutas e suas esperanças: ontem e hoje são sempre os mesmos” (idem, p. 139). Lembrando Baudelaire, os homens não se diferem nem existem senão por suas obras.

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