quarta-feira, 1 de julho de 2009

Caderno de Sociologia

Caderno de Sociologia
Comte (positivismo) – digitar depois
Diferença entre:
a) Explicação: Remissão a causalidade. Sociologia se oferece a explicação: remeter o objeto à ordem da causalidade. Indução! Unidade da ciência no método. É comum esta visão ser criticada por alemães, ao afirmarem que a explicação só faz sentido para as ciências naturais. Durkheim crê que, no limite, qualquer ciência deve/pode fazer como a física: possibilidade de ser falsificada (objeto de uma construção coletiva que pode se renovar, portanto, não são dogmas). Mas não é sempre desta maneira que Durkehim procede, embora seja o que fale, bebendo em Comte.
b) Compreensão: Interpretação do sentido. Faz por vezes, quase de modo desavisado. Trata-se, segundo Dilthey, de uma regra de adequação entre método e objeto: raciocínio das ciências da natureza não valem para as humanas (regularidades não correspondem a uma causação unívoca e direta). Especificidade do homem, pois produz sentido à ação humana na história. Este é o intento das ciências humanas, uma hermeneutica. Durkheim não pretendia fazer uma compreensão, mas sim explicação. Poderíamos nos perguntar se não seria algo inevitável uma sociologia explicativa acabar sendo compreensiva. Durkheim pretendia uma análise como a da física justamente pela concorrência das outras disciplinas na análise do social.
Durkheim: o que a sociologia jamais pretende fazer é uma justificação.
As regras do método sociológico (alusão à duas obras de Descartes: duvidar de tudo para depois construir. 1º modelo moderno na filosofia, tal como Durkheim pretendia na sociologia, com a criação de um edifício sólido).
Descartes tem certeza da existência do eu, e possibilita a existência de coisas que se referem à representação delas. Existência ontológica de D’us por meio de uma lógica de Sto Anselmo (pelo menos um alem do eu).
Durkheim: possibilidade de obter certezas no que se refere aos fatos sociais. Regra como um preceito lógico geral (mecânica do funcionamento do raciocínio). Método: determinado posicionamento que o sociólogo deve adotar quando perante o objeto.
Como se houvesse um trabalho preliminar de circunscrever objetos e métodos à sociologia: preliminares epistemológicas
Esquema geral do livro:
1.Preliminares epistemológicas: teoria do objeto (que tipo de fenômeno recai sobre o interesse da sociologia: capítulo 1) teoria da relação (maneira de aproximação: mais presente no capítulo 2). Sociologia deve abdicar de tratar de uma possível natureza humana e se basear no que é observável.
Explicações sociais a partir da proposição de que a natureza humana é algo determinado, então não seria necessária a sociologia. Mas é impossível observar a natureza humana. Portanto, para viabilizar a sociologia, com capacidade explicativa, esta deve se desvincilhar de qualquer categoria metafísica inobservável (como natureza e espírito humano), além de se diferenciar do psiquismo individual (caso o fosse, nada entenderíamos dos fenômenos sociais. Se isso fosse possível, então não seria necessária a sociologia (critica do modelo freudiano: relação de D’us, religião e neurose social).
Uma vez declarada que há uma instância da realidade que não diz respeito ao psiquismo nem aos preceitos metafísicos, então surge a necessidade de manter um raciocínio experimental em locais em que não se pode fazer experimentos (impossibilidade de criar um ambiente controlado). Reproduzir os ambientes, mesmo que fosse possível teríamos problemas éticos.
Portanto, o que se segue é uma maneira de prosseguir o desenvolvimento de seu método com uma analogia ao experimental, sem que o seja.
2. Raciocínio experimental: como um equivalente ao método experimental aonde a experiência não é possível. Deste modo:
Capítulo II: Necessidade de definição prévia dos objetos particulares (desconstrução de todas as pré-noções anteriores)
Capítulo IV: Classificação dos objetos: não se apresentam sob certas formas diferentes em si? Propõe a criação de uma tipologia, como faz no suicídio. Há a possibilidade da classificação ser inútil, uma vez que a utilidade se relaciona com a explicação.
Capítulo V. Explicação: A princípio, um meso fenômeno é produzido sempre pelas mesmas causas. Por meio da estatística, da história comparada (tentando sempre um raciocínio experimental) e etnografia. Considera a história uma linha auxiliar da sociologia, coletando fatos para que os sociólogos tirem as conclusões.
Capítulo VI. Prova: procedimento para pensar a possibilidade de provar
3. Teoria/Ciência em relação com a prática (ponto em comum com Marx, embora a encarem de forma diferente). Possibilidade de, atuando sobre as causas, atenuem um sofrimento, como um médico. Separação entre o “aquilo que é o que deve ser” e o “aquilo que deveria ser” (normal e patológico). Para Durkheim, para ser sociologia deve trabalhar no estilo da causalidade. Existe uma questão de previsibilidade inerente a sua obra, embora difira-se da previsão das ciências naturais.
Capítulo 1. O que é um fato social? Referente às preliminares epistemológicas: teoria do objeto. Sociologia é a ciência do fato social, não a da sociedade. São:
a) Exteriores em relação à consciência individual: sua origem é externa à nossa consciência. Indivíduo como suporte do fato social, não substrato. Não são produtos do indivíduo, mas internalizadas (existem antes de mim e vão existir depois). Pode ser uma relação naturalizada. Ex: língua, anterior e superior
b) Coercitivo: pressão de fora para dentro: obriga o individuo a aceitá-lo. Caráter obrigatório pode ser sentido quando se tenta ir contra mas há qualquer tipo de resistência. Exemplo de LUkes: autoridade da lei, determinações culturais; pressão utilitária; situações extraordinárias, quando o grupo se comporta como multidão.
c) Generalidade: grande difusão com relação a sua generalidade. Se é obrigatório, muito provavelmente será geral. Um critério subsidiário. Generalidade se deve à sua obrigatoriedade (debate com as teorias da imitação social de Tarde). Para Durkheim, a generalidade do fato social é uma conseqüência, para Tarde é a causa.
Ou seja, há a delimitação de uma instância de realidade que está separada de uma suposta natureza humana e dos fenômenos psíquicos. Possibilidades dessas formas se cristalizarem. Sempre que um fenômeno obedecer à esses dois critérios, exterior e coerção, está no âmbito de uma explicação sociológica. Devemos, então, seguir as regras do método sociológico, e tratá-lo como coisa.
Diferencia os fatos sociais em dois planos diferentes: 1. Modos de agir, pensar e sentir: correntes – conjuntura, fisiológica: Remetem a um certo modo da estrutura, são efêmeros. Poderíamos chamar de conjuntura; 2. Modos de ser, estruturas: morfológica. Mais fixas: imprimem condições de possibilidade daquilo que se passará no fisiológico.
Existencia de uma relação, podendo inclusive a “conjuntura” (fisiologia) modificar a “estrutura” (morfologia)
Capítulo 2. Relação com o objeto
Depois da teoria do objeto (gerais, externos e coercitivos) que tipo de atitude mental devemos ter para apreender cientificamente o objeto. Regra fundamental: tratar os fatos sociais como coisas. Não se trata de considerar Durkheim um materialista barato, nem crer na descrição ontológica da natureza dos fatos sociais. Mas tratá-los COMO SE ELES FOSSEM coisas.
Coisa é resistente a vontade dos atores. Diferente de idéia que se tem das coisas. Análise ideológica: muitos fizeram o percurso da representação (conceitos) ao real (fatos). Dedução do que seria o real, eventualmente buscando alguma remissão aos fatos.
Análise ideológica em Marx e Durkheim possuem semelhanças: não busca a realidade (Marx a considera a inversão da ordem social, Durkheim a incapacidade de alcançar a realidade: ineptas para apreender a verdade). Só que, para Marx, é mais do que ser uma análise inepta do ponto de vista cognitivo, desprendendo toda uma conseqüência política disso. Explicar com base na natureza humana é uma análise ideológica. Portanto, devemos nos afastar da tentativa de iluminar o real a partir das idéias (Comte e o espírito humano são um exemplo de análise ideal).
Questão de neutralizar as pré-noções que fazemos sobre o objeto. Afastar as pré-noções. Sociologia possui um caráter indutivo, que vai das coisas, observação, à teoria. Mas se pode ter uma hipótese a ser verificada, uma intuição e não uma pré-noção com a qual vamos aos fatos só para prová-la. A neutralidade surge frente a possibilidade de introduzir uma separação artificial entre sujeito e objeto (ingenuidade em se seguir este padrão de ingenuidade das ciências naturais). Devemos observar, sujar a mão com o empírico, não podemos usar os procedimentos da filosofia. A indução é uma das grandes contribuições que Durkheim perpetuou à teoria sociológica. Muitas vezes ele mesmo não segue em sentido estrito seu próprio método Crê que nenhum princípio abstrato me dará a chave da compreensão dos fenômenos sociais.
Lugar da psicologia: tradução individual do fato coletivo. Há repercussões diversos dos fatos sociais. Termina as preliminares epistemológicas no meio do cap. 2, para agora entrar no raciocínio experimental.
Utiliza a definição provisória para o início de sua pesquisa: circunscreve os fenômenos em determinado universo. Considera crime todo ato punível (não se pergunta sobre as razões que levam ao crime).
Quando é difícil observar o fenômeno social, podemos utilizar a história, as representações materiais dos fenômenos sócias (documentos, estátuas, filmes, arte). Segundo Durkheim a sociedade produz os indivíduos, e não o contrário. A vida social é parte da natureza no caso, do homem.
Difere essência (se retirada do objeto ele deixa de ser o que é) de acidente (se retirada do objeto ainda se mantém o que é). Ser = determinações acidentais e essenciais. Natureza: homem é essencialmente um ser que vive socialmente.

INSERIR AULA 3 SOBRE AS REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO
Da divisão do trabalho social:
Spencer crê na utilidade como o fundamento da vida social e um critério moral. Crê que pessoas estabeleçam ligações entre si para atingir determinados objetivos.
Durkheim, preocupado em entender como um grupo de homens se mantém coeso em uma sociedade, combate Spencer por(combate a utilidade como fundamento da vida social):
Uma coisa não é social por ser útil, mas o contrário: pode ser útil por ser social.
Spencer pressupõe a existência de indivíduos antes da sociedade
O interesse unindo as pessoas é volátil (a relação termina quando termina o interesse): deve haver algo além do interesse.
Durkheim: Interesse/egoísmo: impossibilita uma vinculação permanente. Difere de solidariedade: uma forma de vinculação não baseada no interesse: Se há de fato uma ligação entre pessoas, então ela é para além dos interesses, mas sim uma forma de ação interdependente (depender dos outros e ter os outros dependendo de você não está no indivíduo.
Para Norbert Elias: sociologia estude redes de interdependência. Durkheim não aceita frases do tipo: a sociedade é gerada pelos indivíduos. Vida coletiva caracterizada pela interdependência. Conclusão: moral e sociabilidade não provém do utilitarismo (de certo modo próximo de Marx, embora este vá além da dimensão cognitiva, chegando á política).
Não é o útil que determina o social, mas o social que determina aquilo que é útil em determinada sociedade.
Homem na nasce biologicamente social: social como uma segunda natureza (natureza tida como tudo aquilo que o homem não constrói, influência aristotélica nesse pensamento). Para Durkheim é impossível pensar que o ele social não possua algo de moral. Solidariedade também tem seu sentido moral: estabilidade da união especificamente humana.
Quais os tipos de associação de que dispomos? Como uma nova forma de associação, a divisão social do trabalho, possui uma divisão moral? Doutrina moral não suposta em um sentido arbitrariamente imposto. Possibilidade de se observar o que produz a ligação entre os homens (pode-se fazer uma sociologia dos fatos morais).
Plano geral do livro:
1. Função da divisão do trabalho: produzir solidariedade, vínculos sociais (hipótese a ser demonstrada)
2. Causas dessa nova forma de associação
3. Problemas que apresentam
Durkheim está desvinculando a análise de um caráter ético. Sociologia está no plano das idéias instituída (foco nas regras elas mesmas). Nova abordagem sobre a moral: não só especulação,mas partindo de critérios, regulações. Base, fundamento da regulação está na própria associação. Por isso todas associações possuem questões morais.
Divisão do trabalho: Mundo moderno, pós revolução industrial e francesa. Para Durkheim e Spencer o mundo moderno é uma sociedade marcada pela especificação (por exemplo, da ciência), diferenciação (do trabalho), multiplicação de papéis e funções.
Nunca houve uma sociedade sem nenhum tipo de distinção, diferenciação: mas o que caracteriza a nossa sociedade é o crescimento da especialização e diferenciação. Há sociedades com poucos papéis e funções diferenciadas (muitas vezes o trabalho é dividido por dois critérios: sexual e etário). Nossa sociedade se caracteriza pelo crescimento exponencial da divisão do trabalho, complexificando-se.
Clivagens tornam-se linhas de pertencimentos sociais coletivos (que daria a chave de nossa identidade): círculos concêntricos.
Divisão do trabalho social: processo já se deu, mas está em vias de se acabar: imperativos da produção geram a divisão do trabalho (como em Marx, embora este vá além, criando o conceito de alienação). Mas para Durkheim a Divisão do trabalho social é mais do que isso, é tudo junto.
Divisão do trabalho social possui um duplo caráter: pessoas tornam-se mais dependentes e mais livres, autônomas para transitar entre os papéis sociais.
Método de Durkheim nessa análise: Estudar um fenômeno em si mesmo, a divisão do trabalho social como um fato social. Hipótese: a divisão do trabalho liga as pessoas entre si. Precisa-se de um indicador indireto que para aproximarmo-nos da divisão do trabalho. O direito, tido como expressão concreta das normas sociais, capaz de reproduzir as formas de solidariedade social.
Ora, a lógica é linear: Solidariedade social se expressa nas formas do Direito se a cada tipo de associação há um tipo de direito, devemos então fazer uma tipologia do direito, segundo a pena: a) Repressiva: expiação da culpa à direito penal; b) Restitutiva: amenizar/restaurar o dano produzido(recomposição do estado em que as cosias estavam antes da transgressão) à direito civil, comercial, administrativo...
Obs: Tipologia das regras jurídicas em função da sanção (falácia da prisão com função restitutiva é um ponto em comum com Foucault).
Formas de associação:
a) Solidariedade Mecânica: típica do direito repressivo. Funciona com base na semelhança que gera uma empatia fundando uma identidade partilhada. Existência histórica: sociedade tribal e camponesas pré-grandes revoluções. Padronização das funções pois há valores, objetivos e sentimentos compartilhados. Coesão passa pelo princípio da identidade. Consciência coletiva (crenças, sentimentos, valores comuns à média dos membros de uma determinada sociedade) domina quase totalmente o indivíduo (há um pequeno espaço para os anseios individuais que não coincidem com as do grupo). Por isso as pessoas são tão parecidas (todos com uma pequena variação do tipo comum, médio, modelo): identificação muito imediata, empatia dá a lógica da ligação, é imediatamente partilhada por todos. O nome mecânica deve-se a idéia de repordução mecânica: uma parte se move com o todo, sem muita autonomia de uma peça em relação a outra. Continua a existir entre primitivos. Prevalece o direito repressivo (expiação da culpa) pois qualquer transgressão contrária é consciência coletiva (sendo a expiação uma tentativa de reafirmar a consciência coletiva, daí sua força).No ocidente já prevaleceu, mas houve a passagem para a:



b) Solidariedade Orgânica: prevalece no ocidente, a forma de direito típica é o cooperativo, restitutivo. AS partes, por serem differenciadas, possuem certa autonomia, mas como no corpo humano, o todo se dá pela função específica de cada órgão. Caracterizada pela divisão do trabalho (capaz de vincular as pessoas com base na diferença, na complementariedade). Na medida em que cumpre uma função determinada, cada vez mais o indivíduos precisa dos outros, surgindo a necessidade de se ligar com o diferente (lembrar da idéia de N. Elias: interdependência como fundante da sociedade). A maior parte dos pensamentos que povoam a consciência de cada um são individuais, e não mais sociais e compartilhados. Se enfraquece a punição agressiva, pois a esfera de ação da consciência coletiva diminui, torna-se fraca: direito cooperativo tenta restabelecer o que foi rompido, restituição do dano causado (ex: contrato no direito comercial). Corresponde às sociedades ocidentais pós revoluções (francesa e industrial).



Revisão: Divisão do trabalho dá coesão à sociedade: dá aos homens o que lhes é constitutivo, que é a vida em sociedade. Elemento associativo: Como observar essas formas de associação? Como apreende-las? Por meio de um marcador, uma representação, cristalização observável de algo inobservável: classificação da divisão do trabalho por suas formas jurídicas
Diferentes modalidades de associação corresponderiam a diferentes formas jurídicas: classificação dos tipos jurídicos conforme as penas.
Necessidade de se compreender a passagem da socialização por solidariedade mecânica para a socialização por solidariedade orgânica sob o ponto da individualidade. N. Elias: identidade naquilo que temos de singular: formação histórica de uma representação do Eu separado de nós é algo que ocorre no ocidente, mas não em outras sociedades, em que o indivíduo investe a pessoa de identidade (forte relação entre o “eu” e seu “papel social”).
Sociedade que produz os indivíduos é a em que pode funcionar o contrato. Só quando há a transformação da sociedade forma pela identidade para a formada por semelhança que surgem os indivíduos, que podem então acordar: indivíduos não criam a sociedade, são seu fruto, produto. Necessidade da existência do indivíduo é a passagem da solidariedade mecânica para a orgânica.
Essa passagem não é necessária, nela se fortalece a figura do indivíduo (produzidos pelo processo da transição de uma forma a outra). Sociedade produz os indivíduos, daí sua crítica aos contraturalistas: há um processo social que configura os indivíduos como tais. Portanto, o individualismo não é uma verdade e si mesmo, não podendo ser o fundamento do coletivo (há sociedades não individualizadas).
Em suma: Função da divisão do trabalho é produzir a solidariedade, o coletivo: o que antes era função da consciência coletiva torna-se a da divisão do trabalho, frente o enfraquecimento da primeira.
Na solidariedade orgânica nos aproximamos de determinados grupos em alguns aspectos,e de outros grupos em outros aspectos. Sou uma somatória de pertencimentos sociais que é própria de mim: consciência se multiplica: dos sociólogos, das mulheres, dos jovens, dos palmeirenses...
è Compreensão das causas desta transformação:
Sabemos para que serve a divisão do trabalho, necessitamos saber suas causas, as condições de emergência deste fenômeno. Remete à regra metodologia da homologia entre causa e efeito: se o fato é social, então sua causa também deve ser.
Causas devem ser buscadas nos aspectos morfológicos da sociedade: divisão do trabalho varia em relação direta ao volume (tamanho) e densidade dinâmica (nível de proximidade): divisão do trabalho aumenta conforme aumenta o volume e a densidade moral. A partir de determinado crescimento do volume e densidade moral a associação por solidariedade mecânica torna-se insufieciente.
A insuficiência da solidariedade mecânica frente a este aumento do nível de coalescencia social deve-se a: utiliza um argumento de Darwin: quando um numero grande de membros interagem tanto só poderão conviver se houver uma complementariedade, caso contrário haverá muita competição e uma luta de todos contra todos. Portanto, a divisão do trabalho é uma espécie de resposta adaptativa ao aumento do volume e densidade dinâmica. A estrutura do coletivo na solidariedade orgânica impõe a cada uma sua função.
Relação entre a configuração do meio interno e o tipo de adaptação. Durkheim evita uma explicação histórica para não cair numa filosofia da história, no sentido teleologia da história. Colocariamos Durkheim em uma situação desconfortável caso lhe perguntássemos o porque deste aumento em determinado momento. Portanto, não é um dos pontos fortes da obra de Durkheim.
Importância da causa para Durkheim é esta ser o princípio de cientificidade: vínculo de necessidade lógica (se a sociologia não for como a física ela não é nada).
è Formas patológicas da divisão do trabalho:
Necessidade deste capítulo pois o processo de complexização da divisão do trabalho é algo normal e positivo. Mas há certos traços patológicos que ocorrem quando a divisão do trabalho não produz solidariedade social à forma patológica: se dá em um Estado de anomia (ausência de regras; situação de desintegração da norma social, perda de referência).
Aspecto agônico, conflitivo da vida social: tensão entre grupos, tudo isso é resultado da divisão do trabalho, tem em comum o fato de serem fenômenos anômicos.
Esta perda de referente se dá com uma espécie de diacronia entre a derrubada das normas tradicionais e ascensão das novas regras possivelmente organizantes da nova sociedade. Este processo de queda das normas tradicionais e ascenção das modernas não se dá ao mesmo tempo: há a perda de referencial (o novo não surgiu totalmente)
3 focos da anomia no mundo moderno:
1. Crise econômica: Ocorre pois o mercado, para funcionar, exige um contato próximo e recíproco para que cada indivíduo saiba sua função. Necessidade de uma harmonização da produção, circulação e consumo: havia uma regra clara na economia pré-capitalista. Mas na modernidade ainda não há essa comunicação entre agentes, que antes era feita por instituições, como no caso das corporações. Há ausência de regra, anomia.
2. Inadaptação entre trabalhador e sua ação: Enfrenta a questão da luta de classes (embora não usa esse termo). Lugar do indivíduo não é mais fixado pelo nascimento, seu lugar deve ser proporcional a seus objetivos e possibilidades. Perdemos qualquer critérios que distribua os indivíduos em suas funções. Antes era o do nascimento, que já era ruim, hoje não há nenhum, portanto, anomia. Esse tipo de questão é tipicamente moderna: conflito no mundo do trabalho pois as pessoas estão nos postos errados, não há mais correspondências entre cargo e objetivo/necessidade
3. Excesso de reivindicações individuais frente o coletivo: Na orgânica os indivíduos tornam-se conscientes de si mesmos. Se muito conscientes começam a exigir mais do que a sociedade pode lhes dar. Aversão/dificuldade de lidar com uma coerção coletiva: tirania dos desejos individuais (a introjeção da regra de controle não ocorre tão facilmente). Ou seja, incompatibilidade entre seu desejo social e aquilo que pode atingir: problema é desejar sem freio (sentimento oceânico de que se poderia tudo). Desejar demais é o caminho para a frustração do desejo pelo coletivo. Caso essa frustração não consiga se impedir, gera a infelicidade. Antes tínhamos esse critério de comensuabilidade entre desejo e possibilidade: dada pelo nascimento, havia conformidade com sua posição.
Supõe que um dia haverá o reequilíbrio: possibilidade de se superar a anomia caso surja uma norma de referência. Sociologia pode ajudar na medida que examinando a análise do que é pode diagnosticar formar pelas quais sair da anomia, e Durkheim o faz, ao afirmar a necessidade de criação de instituições intermediárias, capazes de vincular indivíduos, sentimento de pertencer.

Lições de Sociologia:
Diferença entre a filosofia política (preocupado com a fundação do Estado: se o poder soberano possui legitimidade) e a sociologia política de Durkheim (causas e funções: entender sua natureza e função na sociedade como um todo, certo desvio da tradição da filosofia política). Político torna-se objeto da sociologia.
Estado: órgão de pensamento coletivo, elaborando certas representações. Analogia com a função do cérebro para o corpo. Mais um ponto em que se diferencia da filosofia política refere-se ao fato de que esta se preocupa com a relação entre estado e indivíduo, Dukrheim entre os diferentes segmentos e o estado. Estado como órgão para a tomada de consciência da unidade entre os segmentos particulares.
Coloca o problema de se o Estado é o órgão de produção de representação coletiva, estas devem ser de um tipo especial. Dois conjuntos de representações coletivas. Para Durkheim seu Estado difere do da filosofia política por ser organizado como produtor de pensamento social: um órgão de reflexão (tanto no sentido de pensamento como de espelhamento - diversos segmentos sociais podem se reconhecer neles).
Estado não é a representação do todo: mas o órgão no qual as partes do todo se reconhecem: reflexão permite o crescimento da consciência de si dos diversos grupos. É uma instituição que transcendo o particularismo por ter como função ser a tomada de consciência de todas as instituições. Relação mediada com a universalidade, e não seu representante direto (assim é o pensamento de Hegel).
Qual a relação entre Estado e a organização da sociedade moderna? Tendo em mente a passagem da solidariedade mecânica à orgânica, como a divisão do trabalho impulsiona o estado?
Não existe Estado, mas poder nas solidariedade mecânica, pois não há segmentação tão forte como na solidariedade orgânica. Portanto, não há Estado pois não há um todo social formado por muitas partes diferenciadas entre si. Com o aumento do volume e densidade moral torna-se necessário uma coordenação entre as diferentes instituições (não há relação direta entre estado e indivíduo). Foi só a partir da divisão do trabalho que se torna necessário um fórum de representação em que os diversos segmentos pudessem entrar em contato, ter consciência de si.
O que é a democracia?
Quanto maior o contato do estado com os outros órgãos que se representam nele, mas democrático ele será. Mais democrático de conforme com maior número de órgãos estiver em contato. Democracia se define pela comunicação. Será explorada por Habermas: democrática a decisão que se faz via argumento visando o consenso.
Não é apenas um órgão de expressão das idéias individuais nem apenas repressor.

Parte 2

Resumo das aulas do 20 Bimestre de Sociologia III
O Suicídio, 1887:
Introdução; Livro I: Fatores não sociais usados para explicar o suicídio. Durkheim pretende refutar as teorias disponíveis, afastando as pré-noções; Livro II: Causas e tipos sociais; Livro III: fenômeno social em geral, remédio para baixar a taxa de suicídio.
Antes o suicídio era considerado por teorias psicologizantes. Durkheim inova ao tentar captar o suicídio como fato social, com causas também no âmbito do social. O livro I discute a possibilidade de conceber o suicídio como resultado de uma patologia mental. Com base em estatísticas, compara a taxa de suicídios entre doentes mentais e “saudáveis”, provando que não existe tal relação. Faz o mesmo com o alcoolismo, em um processo de destruição das teorias anteriores. Portanto, descarta explicações anteriores, considerando-as insuficientes a partir de métodos estatísticos.
Refuta também fatores “atmosféricos”, considerando que se pessoas se matam mais no inverso isso decorre de um ritmo de vida menor nesta época do ano. Refuta também a idéia de imitação, de Tarde. Considera que estas teorias não iriam muito longe por partirem de problemas, de dramas individuais. Há uma dificuldade clara de Durkheim convencer as pessoas, indo no sentido contrário de suas pré-noções.
No livro II: Pensar o suicídio como fato social, obedecendo aos critérios de circunscrição do objeto aos métodos da sociologia, considerando esta a única ciências capaz de apreendê-lo. Não se trata do modo como o psiquismo reage, mas do suicídio pensado como coletivo, não apenas individual.
Infere a realidade social do suicídio por meio das taxas de suicídio: há uma regularidade da taxa num mesmo país, parecendo que cada país possui, inclusive, sua própria taxa de suicídio (atenta para o fato de haverem saltos). Portanto: variações das taxas de suicídio variam conforme situações sociais determinadas: a taxa de suicídio é constante se as condições sociais não variarem.
Acompanha, também, características gerais de determinados subgrupos (por exemplo, em todos os países, os católicos se matam menos que os protestantes). Ora, nenhum destes fatos é compatível com a idéia de que o suicídio se deve apenas a dramas pessoais, idiossincráticos.
Sua idéia inicial não passa de uma hipótese. Embasado em dados estatísticos, afirma que um fenômeno com distribuição regular não pode ser explicado por razões idiossincráticas. Deste modo, pelo menos neste momento, considera mais sensato pensar a causa do suicídio por razões supraindividuais, coletivas.
Suicidio aumenta tanto em crises como em períodos de grande prosperidade: isso se deve à perda de regras, referencia, que gera o aumento do suicídio. Pretende chegar a uma lei invariável ao longo do tempo: sempre os religiosos se suicidarão menos que os não religiosos (lei em sentido matemático).
O suicídio tende a diminuir conforme o grupo seja mais “coeso”, ligado: ora, se há suicídios que não aparecem nos dados, é porque a família do suicida não quis que isso viesse a tona, isso significa que há uma indicação de que ele esteja integrado.
Drama individual é a refração, expressão de fenômenos sociais.
Definição de suicídio: “toda morte que resulta de um ato da vítima que sabia que produziria tal resultado”. Ou seja, morte consciente da ação ou omissão consciente do agente. Circunscrição do fenômeno: exclui as tentativas de suicídio (não há relação com a vontade de morrer). Distingue suicídio do acidente.
Seguindo o método proposto, uma vez feita a definição, é necessário verificar a possibilidade de tipificar o suicídio: o mesmo fenômeno deve ter as mesmas causas, cada espécie é uma expressão diferente da mesma causa. Ora, para que uma sociedade exista deve haver integração e regulação.
Integração: modo como os indivíduos se aproximam de seu grupo. Busca de fins próximos. A função da integração se dá por semelhança (solidariedade mecânica) ou por diferença (solidariedade orgânica). Tanto a semelhança como a diferença podem cumprer a função de integração social.
Regulação: outra função social a ser cumprida, papel moderador do todo sobre as paixões individuais, limitação dos desejos pessoais sem o qual não haveria coesão, o grupo não se manteria. Necessidade de regra, de referência, para contenção do desejo do individuo, até porque o desejo ilimitado levaria a infelicidade.
Como a coesão existe em função da integração e regulação, cria, com base nestas funções, os tipos de suicídio. Sendo eles 4: Estado social muito desregulado produz suicídio; o muito regulado também produz; Estado social com ausência de integração produz suicídio, com excesso também.Ou seja:
Coesão
Integração
Regulação
Excesso: altruísta (pressão social para se matar)
Ausência: Egoísta
Ausência: Anômico – não oferece critérios, freios, contenções, ausência em termos de regras
Excesso: Fatalista– individuo como mero executor de um plano coletivo do qual não pode escapar.

Trata-se de quatro tipos de suicídio que são variações de uma única causa: o rompimento do elo, ligação entre individuo e sociedade. Apagando qualquer um dos termos indivíduo-sociedade há possibilidade de suicídio. Se o indivíduo deixa a vida ele foi antes abandonado pela sociedade.
No caso do suicídio altruísta é o indivíduo que se anula, agindo em nome do social; no caso do suicídio egoísta, é a sociedade que é anulada; no caso do anômico, é também a sociedade que é anulada; já no caso do fatalista, há a anulação do indivíduo, mero executor de regras sem vontade própria.
Trabalha mais os tipos egoístas e anômico, por serem típicos da sociedade moderna, da solidariedade orgânica. Para Durkheim, o aumento na taxa de suicídio é uma indicação da problemática da sociedade contemporânea. São justamente estas as formas que muito aumentam com a transição de solidariedades mecânica para orgânica. O altruísta é utilizado mais para explicar o egoísta, o fatalista é apenas citado em uma nota de rodapé. É típico da solidariedade orgânica a ausência de integração e regulação.
INTEGRAÇÃO, dois tipos de suicídio:
à Suicídio Egoísta: fraca integração social. Durkhiem não reprova a individualização em si, o problema é o excesso, o egoísmo (com origem na fraca integração social). Deslocamento em relação aos subgrupos do qual poderia participar, se entrega a si mesmo. Verifica a existência de 3 formas de ligações com o mundo:
a) Religião: Suicídio é mais frquente em protestantes que em católicos, e mais nesses do que nos judeus. Não se trata de uma explicação pelo dogma, mas sim, pois no protestantismo há maior individualização religiosa do que no catolicismo. Como no protestantismo não há a necessidade de um mediador entre o fiel e D’us, as reuniões com a congregação ocorrem em menor numero que no catolicismo, onde há um intermediário entre o fiel e D’us. Importa na religião o fato dela congregar em grupos, não a crença pessoal. Como no catolicismo a vida comunitária é mais forte do que entre os portestantes, por isso os protestantes se matam menos que os católicos. Espírito de exame: religião tem realidade por agregar, mas sua realidade não estaria vinculada ao conteúdo professado por fiéis. Se uma religião liga mais, ela protege mais. Já no judaísmo, há uma intensificação da vida coletiva devido os preconceitos e histórico de perseguições. Portanto, pessoas religiosas se matam menos devido a sua ligação com o grupo, não devido ao dogma.
b) Família: conjunto de laços entre cônjuges e filhos. De um modo geral o coeficiente de preservação dos casados em relação aos solteiros é maior (maior ainda é a preservação dos casados com filhos). Uma exceção são as mulheres casadas sem filhos, que se matam mais que as solteiras. Há a mesma lógica de explicação da religião: Protege do suicídio o feixe de ligações (ex: quuanto maior o numero de filhos menor a chance de suicídio).
c) “Grupo político” (= pertencimento a um Estado): Também protege contra o suicídio, pertencimento geral de todos a nação, mesmo fraco, protege. Ex: taxa de suicídios cai em tempos de guerras, pois as pessoas vivem mais intensamente o seu laço de pertencimento a uma nação.
Não há mais necessidade de fazer pesquisas neste sentido: podemos encarar que o pertencimento ao grupo protege o indivíduo do suicídio egoísta. Chance de se fazer o suicídio egoísta cresce conforme se diminua o pertencimento, relações a grupos, criando o Estado de Egoísmo.
àSuicídio altruísta: causa contrária do egoísta, excesso de presença sobre a forma de integração. Individualização muito fraca: membros do grupo não existem por si mesmos, vivendo para o grupo. É mais comum na sociedade mecânica (ex: Índia, em que a mulher se mata após virar viúva: ela não existe como individualidade, apenas como o papel social de esposa). Vikings: ética viril recomenda que o homem não chegue a velhice, debilitado; Na sociedade moderna, mantendo todos os outros aspectos constantes, militares se matam mais que civis.
REGULAÇÃO, dois tipos:
àSuicídio Anômico: sociedade não oferece critérios ao indivíduo sobre o que é razoável dele querer. Poder sobre o indivíduo se enfraquece, sem que tenha uma regra para lhes frear o desejo. Sofrem de “mal-do-infinito” (próximo ao conceito freudiano de sentimento oceânico, embora este remeta a uma origem no psiquismo)). Sempre em uma situação de transição em que o indivíduo não sabe o que esperar do mundo: sujeito desejante que multiplica indefinidamente os objetos desejados, sem noção de regulação, aumenta a chance de frustração.
a) Anomia no campo econômico: taxa de suicídios aumenta tanto em crise, como em momentos de crescimento (crise de prosperidade). Nessas duas situações, indivíduo com deslocamentos radicais, para cima ou para baixo, perde o senso do que pode/podia fazer com determinada quantia, perde a referencia, os parâmetros, ou seja, falta de regulação
b) Conjugal: divorcio. Diz que a mulher, com o divorcio, passa a se matar menos que o homem, pois há um alívio nas constrições a que era sujeito. O homem, de maneira diferente, com o divorcio, não mais precisa restringir seus desejos sexuais a uma só mulher, caindo no mal do infinito. Trata-se de uma explicação que contraria o próprio método Durkheiminiano de explicação do social pelo social,quando ele diz que os homens tem naturalmente um desejo mais pujante que o da mulher (além de não se afastar das pré-noções). Em uma explicação mais tipicamente Durkheiminiana, poderíamos explicar pela maior coerção social sobre a mulher.
àSuicídio fatalista: excesso de regulamentação. Ex1: Mulher casada sem filhos: excesso de regulamentação sem que possua os “benefícios” da integração dada pelos filhos; Ex2: Suicídio de escravos, que provavelmente estão bem integrados, mas há um excesso de regulação,ao se verem obrigados a obedecer estritamente um conjunto de códigos.
Formas elementares da vida religiosa:
Religião como meta-instituição: origem das outras instituições, fato essencial que se confunde com o próprio social. Mudança temática: religião pensada como fenômeno social.
Virada metodológica: passa a utilizar a etnografia, em uma tentativa de adaptar o melhor método possível ao tipo de problema que tenta responder (é um anacronismo afirmar que tenha por isso se tornado um antropólogo).
Intenta buscar na religião mais antiga ainda existente uma espécie de origem das religiões.
Faz trabalho de segunda mão, utilizando etnografia de outros.
Não que se trata de uma ruptura, por trabalhar a religião como fenômeno social, mas mantém uma continuidade em dois sentidos:
Continua a indagar sobre o fundamento da sociabilidade: neste trabalho indica as representações coletivas (mas trata a mesma questão de fundo, desde sempre)
Interesse pelo mundo contemporâneo: interesse instrumental para tentar compreender o que é a religião em geral e a religião na modernidade
Religião: espécie de base da vida coletiva. Como afirmar isso em um mundo em que a religião perde espaço? Afirma que religião sempre existiu e sempre existirá (idéia de que outros tipos de religião tomariam o lugar das já historicamente consagradas). Deste modo, Durkheim vai na contramão do que os principais pensadores diziam sobre a religião (ex: Freud considerava a religião como neurose infantil da sociedade, representação no plano coletivo daquilo que se passa no plano interno; ex2: Nietzche).
DUrkheim acredita que a religião não é uma ideologia, um falto valor. Se o fosse, implicaria em não pensar a relação com o rela: ela existe desde sempre e para sempre por manter uma relação com o real, caso contrário desapareceria. Portanto, deve haver uma correspondência com a realidade. Se a religião sempre existiu, então não deixará de existir com a mudança da sociedade.
Tem relação com uma experiência determinada à religião tratada como fato social.
Durkheim analisa a religião mais antiga ainda existente e mais simples, o totemismo australiano: trata-se de uma visão evolucionista que mistura lógica e história, crendo que a mais historicamente antiga é a mais logicamente simples.
A ordem do livro é: Definição de religião, estudo sobre a origem do sagrado e, por fim, sobre as representações coletivas.
Capítulo 1. Definição:
Se contrapõem às teorias que explicam a religião separando-as em 2 grupos.
Religião:
a) D’us relaciionado com entidades pessoais, suprasensíveis: crítica as teorias que relacionam a religião a D’us, afirmando que não está presente em todas as religiões (trata-se de uma refutação empírica). Ex: Jainismo e Budismo
b) O problema da explicação da religião ligada ao sobrenatural é que esta separação não é universal, mas produzida pela própria sociedade, em que há uma ciência que difere o natural do sobrenatural. Trata-se, assim, de uma atitude etnocêntrica, uma vez que outras sociedades não pensam essa distinção entre natural e sobrenatural que nós pensamos.
Depois de afastadas as pré-noções, preocupa-se em definir o que é a religião. Sistema solidário de crenças (representações, doutrinas, dogmas) e ritos (práticas) que se retroinfluenciam: crenças remetem à prática, prática é a realização ritual de certas crenças.
Mas nem todo sistema solidários de crenças e ritos são uma religião. O que diferencia a religião é o conteúdo destas crenças, o sagrado” Toda as religiões fazem uma separação entre o sagrado e o profano: atitudes, objetos, pensamentos, ou seja, aplicáveis a qualquer instancia do real. Instala uma heterogeneidade absoluta, em que sagrado e profano não se misturam. O religioso são as coisas separadas das do domínio comum, separadas do profano pelo cuidado especial com que devem ser tratadas: como se a sociedade protegesse determinadas palavras e pensamentos por meio de interdições: sagrado como objetos que não podem ser tocados sem determinadas precauções. O que é o comum, o essencial, é que exista uma separação, não que seja a mesma para todas as religiões. As separações variam indefinidamente.
Há ainda a separação entre o sagrado fausto (bem, positivo, desejável, ligado a valores éticos) e o sagrado infausto (mau, negativo, indesejável, traz coisas ruins).
É por meio do sagrado que define a religião. Portanto, um sistema solidário de crenças e ritos referentes ao sagrado. Resta ainda um elemento. Há certas práticas e crenças relacionadas a coisas sagradas que não se referem à religião, mas à magia, em que não há igreja.
Último requisito universal às religiões: formação de uma comunidade moral, sentimento de pertencimento a determinado sistema de crenças e práticas à Igreja: Reune em uma espécie de comunidade, dotar as pessoas o sentimento de pertencimento, consciência de ligação que umas sentem pelas outras. Diferente da magia, em que existe uma relação puramente clientelista, pragmática entre o mago e o cliente, em que não se cria um relação como a dos fiéis, crentes. A relação entre cliente e mago se finda quando o objetivo é atingido, não existindo uma relação entre os crentes. Ex: paralelo com a ausência de uma comunidade moral entre os clientes do medico que se encontram na fila do consultório.
Possivelmente não há nenhuma religião que não possua práticas mágicas, mas a magia não implica sempre na religião.
Resta, agora, mostrar a origem do sagrado, sua causa.
Consubstancialidade entre os membros do clã e os elementos totêmicos. O que caracteriza o grupo social é que as pessoas se identifiquem com o símbolo que as represente. O grupo só existe pelo símbolo: grupo existe como grupo quando institui um símbolo pelo qual e a partir do qual passa a existir . Momento originário na criação da sociabilidade. Ora, o indivíduo A se relaciona com o símbolo, o B também, logo, A e B se relacionam.
Horda: (uma espécie de ficção, marcada pela força individual, pelo porfano, representação individual – não é um símbolo partilhado – sensações) a partir da mediação simbólica (institucionalização coletiva quando o grupo passa a existir) se torna um clã (portanto, sociedade, em que há força coletiva, o sagrado, representação coletiva e idéias).
A realidade primeira social é a da representação, simbolização: formadora da realidade. Portanto, a atividade de simbolização é parte constitutiva, institutiva da vida social. Esta é a parte mais importante da contribuição de Durkheim para as ciências sociais: representação faz existir aquilo que ela representa.
Para apreender a origem social do sagrado analisa a sociedade mais simples, e que não por acaso tem a religião mais simples.
Social precisa de um símbolo para passar a existir. Origem do sagrado está no social. Modo inovador como Durkheim pensa a representação.
Representação coletiva é uma realidade, não um reflexo; como uma revolução copernicana: representação no lugar central da sociologia.
Exemplo: conceitos dependem da formulação coletiva, uma verdadeira sociologia do conhecimento, que irá substituir a epistemologia. Filósofos não se deram conta que os conceitos, as categorias dependem da formulação coletiva.
Faz uma teoria das representações de modo geral, a partir da religião, para depois fazer uma análise da constituição dos conceitos por meio da simbolização coletiva. Articula religião e conhecimento, a partir da teoria das representações coletivas: ciência e religião com a mesma origem.
Ora, a relação entre os signo para Durkheim difere das relações entre signos para Lévi-Strauss. Este último esvazia o conteúdo da religião de Durkehim, focando na analogia entre séries. Talvez o essencial sobreviva: a existência do social a partir de uma representação simbólica. Já Bourdieu, tenta articular o estruturalismo ao problema do poder e da história.
Há, portanto, em Durkheim, uma fusão entre religião e sociedade. Se existe algo de real na religião, não se identifica com o que o fiel pensa ser o que realiza. A sociedade é o D’us que a religião adora – transubstancialização do coletivo por um símbolo que está no plano do transcendete, hipostasea a sociedade, transfigura a força social para existir concretamente, em algo supra-sensível (conceitos como D’us, santos, espíritos)
O conteúdo real do sagrado é a própria sociedade. D’us como a transfiguração do social.
Isso se deu pois, até agora, a transubstancialização do real em um símbolo se fez pelo transcedental. Será que há religiões que mobilizam símbolos para o mundo imanente, concreto? Sim
Religião é permanente e está em recuo atualmente. Como? As religiões tradicionais estão em declíneo, por fazer uma transubstancialização no transcendente. Ora, as religiões serão substituídas por religiões laicas, cujo sagrado seja imanente ao mundo, e não transubstancializado no transcendental. Portanto, surgimento de religiões laicas: nacionalismo e o individualismo (elevação da pessoa humana ao sagrado) como religião da modernidade.
Talvez durkheim tenha banalizado a religião.

Nenhum comentário:

Postar um comentário