quarta-feira, 1 de julho de 2009

Émile Durkheim – Formas Elementares da Vida Religiosa

Émile Durkheim – Formas Elementares da Vida Religiosa
I. Escola Sociológica Francesa: Durkheim segue a proposta de Comte (física social: estática social ou dinâmica social, evolucionismo). Trata da ordem e coesão social. Outros autores como Hubert e Hertz. Forte ligação entre sua teoria e o momento histórico: dar respostas aos problemas que lhe eram contemporâneos, não ideológicas – sociologia como uma contribuição moral. Crença na harmonização racional e pacífica: Sociologia deve contribuir para o progresso social. Sociedades analisadas como um todo, um sistema (nada pode ser entendido isoladamente). O problema do evolucionismo seria justamente analisar traços isolados. Análise sincrônica: apreende regras de funcionamento sociais geral à Funcionalismo: Entende como função a contribuição que cada instituição social dá à manutenção do todo: são saudáveis ou não pelo grau de coesão social. Objeto da sociologia: Fato social (modos de agir, pensar e sentir exteriores ao indivíduo)
A Sociedade é algo que ultrapassa a soma de todos os seus indivíduos. Solidariedade Mecânica: Sociedades primitivas, não ocidentais, em que a consciência coletiva garante o consenso; Solidariedade Orgânica: Organismos com funções diferentes que se integram, há o aumento demográfico e de complexidade. Os indivíduos como produtos da solidariedade orgânica: observáveis e analisáveis. Nada que é social pode ser interpretado pelo individual, isso poderia ser objeto de estudo da psicologia. À sociologia cabe a explicação do social pelo social, tratar os fatos de maneira objetiva e imparcial – nenhum símbolo pode ser interpretado fora do contexto.
II. Teoria Durkheim: Como surge e se mantêm a ordem social: não é o Estado que explica o fato social, as este explica aquele. Faz das Sociologia uma ciência autônoma e empírica, demonstrando o "como", e não o "por que". Separa-a da psicologia, considerando ilegítimo um estudo sociológico que trata da consciência individual como geradora dos fatos sociais.
Social para o autor: deve haver integração com uma comunidade moral - integração seria, então adaptar-se, viver de acordo ao que já é dado pelas instituições centrais como a família, a religião (igreja), o Estado e, nele, o jurídico que é a exterioridade da moral, a divisão do trabalho e sua função de criação de solidariedade,etc. Suportes: consenso, coesão, e daí a harmonia e equilíbrio ergue-se uma consciência coletiva (notadamente na solidariedade orgânica), que se sobrepõem as consciências individuais, as controla e orienta.
Sociedade como um primado controlador em que o indivíduo é visto apenas como suporte de normas e valores que a ele se impõem. As ameaças à integração moral são tidas como uma doença no corpo social: fato normal (órgão saudável) é aquele que funda-se na natureza das coisas, e patológico é aquele que diverge do que deveria ser.
III. Formas Elementares da Vida Religiosa: Experiência coletiva é o suporte tanto da religião como da sociedade (o totem físico denota algo invisível). Trata da origem da religião não no medo, mas no entrar em contato com o extraordinário: A festa totêmica é o culto da própria sociedade. Uma mudança de paradigma ao tratar a religião como fato social, portanto, cientificamente explicado com base no coletivo
As representações: O primado ontológico do social, agora já configurado na existência da vida religiosa, faz desta a força engendradora do arcabouço social na sua totalidade naquilo que é essencial na vida humana, tanto do ponto de vista das mentes e espíritos como das condições materiais de existência como ele mesmo afirma “Não existe religião que na seja uma cosmologia ao mesmo tempo que uma especulação sobre o divino”.
Busca nos australianos os princípios da sociedade ocidental, melhor apreciáveis nos mais simples à Sociedades mais homogêneas, mais próximas à Solidariedade Mecânica, em que o indivíduo perde sua personalidade. Religiões como espécies de um mesmo gênero (categoriais fundamentais pelas quais os humanos pensam, mas não com o mesmo conteúdo)
Resumo do texto introdutório de Renato Ortiz
Base material da sociedade, sua morfologia, é determinante sobre os fenômenos da "consciência coletiva"; a compreensão de universos religiosos nos remete à discussão sobre os "ideais", ao estudo de realidades específicas que transcendem o mundo imediato: reflexão sobre os universos ideológicos, de sua autonomia em relação à vida social e de sua eficácia como transformadores das situações de fato – exemplos políticos surgem então de uma analogia com fenômenos religiosos; sociedades para existirem produzem representações que lhes são estruturalmente necessárias: ideologia é constitutiva do processo social; Durkheim dialoga com seu tempo; obsessão pela problemática da moral; D'us = sociedade: autodivinização da sociedade; coerção adquire aqui um estatuto transcendental e sagrado à Diante a crise da sociedades modernas, a religião dos primitivos oferece uma lição exemplar de coesão social
Representações religiosas como constitutivas da sociedade: se afasta da idéia de que religião seria somente uma ilusão; Durkheim desconfia da idéia de progresso que atribui à humanidade a capacidade de se desenvolver no mesmo sentido histórico segundo uma marcha retilínea; ao mesmo tempo que existe um certo evolucionismo no livro, existe também uma recusa ao progresso moral da humanidade: evolução dos valores é sem sentido, uma vez que cada sociedade produz seus próprios códigos, tornando irrelevante a comparação entre primitivos e modernos; o estado de efervescência das multidões causam o fenômeno religioso; totemismo essencialmente como uma religião clânica: estrutura elementar de base para o entendimento de outros universos religiosos; intenção de determinar o nascimento do fenômeno religioso: encontra sua causa nas migrações sazonais dos australianos, fenômenos de multidão: os homens se organizaram primeiro em classes depois em clãs para depois classificarem o mundo em gêneros e espécies, as representações são um produto da sociedade.
Totem como emblema da tribo o levaram a perceber que a vida social só é possível através de vasto simbolismo (se estendendo a símbolos do Estado, como a bandeira): o sagrado se insere, assim, no interior das sociedades modernas; Trata, junto com "algumas formas de classificação primitiva", de uma sociologia do conhecimento; representação: a) conteúdo; b)forma; estudo dos povos primitivos lhe permite demonstrar que essas categorias são produtos da sociedade, articulando-se no interior de "quadros sociais do conhecimento": representações de tempo, espaço, morte, etc... ganham desta forma solo sociológico e historicidade; Durkheim acentua sempre o lado consensual da prática religiosa, sendo a Igreja o espaço em que práticas sociais se articulam e unem em torno de uma mesma comunidade moral; instituições só passam a interessar a Durkheim uma vez que são "instituições sociais", espaços no interior dos quais se manifesta uma consciência coletiva; Um estudo sobre a solidariedade orgânica dos povos primitivos: entender como os universos religiosos cimentam a heterogeneidade social.

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