quarta-feira, 1 de julho de 2009

Lévi-Strauss: A noção de Estrutura em Etnologia in Antropologia Estrutural. Cap. XV

A noção de Estrutura em Etnologia in Antropologia Estrutural. Cap. XV
1. Os modelos devem, para poderem ser chamados de estruturais, satisfazer somente a quatro condições: a) “Estrutura representa um caráter de sistema” (LÉVI-STRAUSS, 2008, p. 301); b) os modelos pertençam a grupos de transformações – correspondentes a uma modelo da mesma família – e o conjunto dessas transformações forma um grupo de modelos; c) Com o que foi dito acima, há possibilidade de prever como o modelo reagirá em caso de mudar um de seus elementos; d) Modelo deve dar conta de todos os fatos observados
2. Experimentação dos modelos está relacionada à possibilidade de saber a reação de um modelo frente modificações, bem como a comparação entre modelos de um mesmo tipo ou de tipos diferentes. No nível de observação, a regra principal é que os fatos sejam “observados e descritos, sem permitir que pressupostos teóricos lhes alterem a natureza ou a importância” (p.303): fatos estudados em si mesmo e em conjunto
3. Devemos entender como modelo uma manifestação da e ligada a estrutura, que se realiza nela, mas nela não se esgota. Portanto, o etnólogo poderá se deparar com os “modelos caseiros”, que podem ser, inclusive, melhores do que os dos etnólogos. Devemos tratá-los: 1) Como via de acesso a estrutura; 2) Os tipos de erros fazem parte dos fenômenos a serem estudados. Normas culturais não são a estrutura, mas “peças importantes para ajudar a descobrir as estruturas; documentos brutos,ou contribuições teóricas, comparáveis às que são feitas pelo próprio etnólogo” (p.305). Os modelos são construídos a partir das relações sociais observáveis.
4. Trata-se de uma diferença de escala: os modelos mecânicos estão na escala dos fenômenos observados, dos fatos. Já os modelos estatísticos estão em outra escala. Vale dizer que os mesmos dados podem receber um tratamento estatístico ou mecânico. Por exemplo, o suicídio: O estudo de casos individuais (personalidade da vítima, história individual e etc...) gera uma abordagem mecânica. Já nos casos estatísticos, poderíamos nos basear na freqüência de suicídios em determinado período. Vale lembrar que a comparação não se restringe ao nível mecânico.
5. Como os estudos estruturais propõe-se a isolar níveis significativos, “cada tipo de estudo estrutural aspira à autonomia, à independência em relação a todos os demais” (p.308). Desse modo, o objetivo é construir modelos cujas propriedades sejam passíveis de serem comparadas com outros modelos. Assim, utiliza o exemplo da diferença de tempo entre história (tempo estatístico: não reversível e de orientação determinada) com o tempo da etnologia (mecânico: reveresível e não cumulativo).
6. Na análise estrutural o método é sempre comparativo: para que se possa tentar uma aproximação da noção de estrutura, inclusive a estrutura comum ao pensamento humano. A opção em um estado comparativo se dá em termos de recorte: o caso é apenas um, que deve ser estudado a fundo. Assim, seus “elementos constitutivos estarão (dependendo do padrão adotado) na escala do modelo projetado [mecânico] ou numa escala diferente [estatístico]”.
7. Tempo e espaço social devem ser abordados como sistemas de referência para as relações sociais. Ora, se se tem por objetivo a compreenção das relações sociais com o auxílio de modelos, o espaço e o tempo são tidos como sistemas de referência para se conceber as relações sociais – é impossível concebê-las fora de um meio comum.
8. O método histórico é compatível com uma atitude estrutural à medida que não se pode encarar as relações sociais isoladas de um tempo e espaço determinado: tanto o elemento geográfico como o temporal são indispensáveis como forma de referência às relações sociais.
9. Uma nova demografia surge, preocupada “com descontinuidades significativa dos grupos considerados como totalidades e delimitados em razão de tais descontinuidades” (p.317). Esse método serve de modelo para que etnólogos possam “encontrar numa sociedade moderna e complexa unidades menores” (p.319). Torna-se impossível delimitar onde começa e acaba uma cultura: o indivíduo detém, então, vários sistemas de culturas (nacional, local, familiar, profissional). Quanto às limitações, o método demográfico urge por uma complementação etnológica, a necessidade de se determinar o comprimento dos ciclos matrimoniais.
10. Operação da comunicação de uma sociedade se dá em, no mínimo, três níveis: comunicação de mulheres, bens e serviços e mensagens. Ou seja, a “o estudo do sistema de parentesco, o do sistema econômico e o do sistema lingüístico apresentam certas analogias” (p.321). Trocas de mensagens diferem-se uma das outras por ordem de grandeza.
11. Lévi-Strauss critica Radcliffe-Brown por considerar que este confunde observação e experimentação. Radcliffe-Brown reduz o nível dos estudos de parentesco ao da morfologia e fisiologia descritiva, ao invés de fazer como Lévi-Strauss, que o eleva ao nível de estudos da teoria da comunicação.
12. Contribuição de Murdock: renovar o método estatístico e “reconstituir a evolução histórica dos sistemas de parentesco” (p.332). Falha: Não distingue suficientemente entre modelos estatísticos e mecânicos e sua reconstituição histórica é ideológica: pois abstrai os elementos comuns de cada estágio para definir o anterior, e assim por diante. Já Lowie, se preocupa em descobrir o que são os fatos, abrindo caminho para os estudos estruturais conforme se atentava ao sistema terminológico e sua relação com as atitudes. Há outras descobertas importantes de Lowie, como o caráter bilinear de sistemas antes considerados unilineares, a influência do modo de residência sobre o de filiação e a dissociação dos comportamentos familiares de respeito à proibição do incesto. É criticado por sua noção de cultura feita de “peças e pedaços”.
13. O argumento final é que a antropologia é uma ciência nova, posta em um terreno “híbrido e ambíguo; nossos fatos são complicados demais para serem tratados de um modo, porém não o bastante para que o sejam do outro modo”. Faz uma analogia com os botânicos: antes os antropólogos recolhiam fatos isolados, conservando-os. Agora os colocam em uma ordem, examinando-os. Ou seja, há a ordem das ordens: “expressão mais abstrata das inter-relações entre os níveis em que a análise estrutural pode ser realizada” (p.356). Vale lembrar que não existe, à priori, uma harmonia entre os níveis de estrutura, eles podem estar em contradição uns com os outros.

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