quarta-feira, 1 de julho de 2009

Roteiro de Leitura – Unidade 3 Claude Lévi-Strauss, As Estruturas Elementares do Parentesco

Antropologia III
Estruturalismo
Roteiro de Leitura – Unidade 3
Claude Lévi-Strauss, As Estruturas Elementares do Parentesco
Capítulo 1.
1. A passagem da natureza à cultura não é datável, sendo justamente por não ser possível uma significação histórica aceitável que há nessa passagem “um valor lógico que justifica plenamente sua utilização pela sociologia, como instrumento e método” (p.41).

2. O propósito da discussão sobre os estudos feitos com bebês e “crianças selvagens” refere-se a uma tentativa de descobrir na prática onde começa a cultura e acaba a natureza. Nos dois casos Lévi-Strauss atenta para a impossibilidade de se atingir tal objetivo com as referidas tentativas: Nos bebês é impossível saber se suas reações referem-se a ausência da cultura ou de mecanismos físicos ainda por se desenvolver – além do fato de que o próprio ambiente em que se isola a criança é tão artificial como a cultura. No caso das “crianças selvagens”, a problemática se dá por muitas vezes elas terem sido abandonadas por defeitos congênitos.

3. Não se pode afirmar que, a partir dos referidos estudos com os grandes símios, estes tenham cultura, devido a ausência de regras: apesar de seu caráter instintivo não ser tão nítido como entre outros mamíferos, a “ausência de regras parece oferecer o critério mais seguro que permita distinguir um processo natural de um cultural” (p.46)

4. Tanto na natureza como na cultura existem regras, embora as da primeira se manifestam pela herança biológica, as da segunda pela tradição externa: “Estabeleçamos, pois, que tudo quanto é universal no homem depende da ordem da natureza e se caracteriza pela espontaneidade, e que tudo quanto está ligado a uma norma pertence à cultura e apresenta os atributos do relativo e do particular” (p.47)

5. O incesto apresenta-se dotado deste caráter distintivo entre fatos da natureza e fatos da cultura justamente por ser uma regra social única, válida em todas as sociedades, com caráter de universalidade.

Capítulo 2.
1. São três os tipos de explicações que Lévi-Strauss apresenta, sobre aqueles que se preocuparam com o problema da proibição do incesto
a) Um primeiro grupo, daqueles que tratam do tema por seu duplo caráter, natural e cultural, estabelecendo entre estes dois uma conexão extrínseca. Seus representantes principais são Morgan e Maine.
b) O segundo grupo de tentativas de explicar o problema da proibição do incesto são daqueles que se focaram exclusivamente ou de maneira predominante sobre as causas naturais. Figuram como seus representantes Westermarck e Havelock Ellis.
c) O terceiro grupo, por sua vez, refere-se àqueles que tentaram explicá-lo por meio de causas exclusiva ou predominantemente sociais, tendo como expoentes as teorias de McLennan, Spencer, Lubbock e Durkheim.
2. Para discutir o primeiro conjunto de teorias Lévi-Strauss se preocupa em demonstrar a insuficiência diante dos fatos, ao constatar que a afirmação daqueles que pensaram esta teoria - sobre a necessidade de “defender nossa espécie dos resultados nefastos do casamento consangüíneos (p.51)” - não existiria em nossa sociedade antes do século XVI; quanto ao segundo grupo de teorias, alega que os autores deste grupo confundiram dois tipos de hábitos, caindo em uma petição de princípio, ou seja, uma inconsistência lógica da teoria. O terceiro grupo, por sua vez, é criticado pela arbitrariedade com que faz a ligação entre os fatos.
3. Devido a ser uma análise dinâmica, e não estática, devemos encarar a proibição do incesto não como um fato cultural, nem como natural, mas sim como a regra que nos permite pensar esta distinção. Não estando nem no estado natural nem no cultural, é a própria passagem. Trata-se da própria maneira pela qual se dá esta passagem da natureza para a cultura: ela ocorre nesta regra e que só se realiza por meio desta regra: “a proibição não depende exatamente nem de uma nem de outra” (p.63)
4. A proibição do incesto apresenta-se como sendo o último ponto do âmbito do natural, portanto universal, ao mesmo tempo que ultrapassa-o, criando no homem a própria cultura, tomando o lugar da natureza. Está aí justamente o seu caráter dinâmico, de ser o ponto de relação, não estando nem em uma ordem nem na outra: é sobretudo por meio dela, nela e por causa dela que se passa da ordem do natural a ordem do social/cultural.

Antropologia III
Estruturalismo
Fábio Ozias Zuker e Gustavo Adolfo Mugica
Roteiro de Leitura – Unidade 3
Claude Lévi-Strauss, As Estruturas Elementares do Parentesco
Capítulo 4.
5 . Lévi-Strauss discute a poligamia pois sua existência surge como uma questão que poderia contradizer o pressuposto da regra da distribuição equitativa das mulheres, oriunda da função de organização da regra do incesto. O antropólogo francês empenha-se, ao analisar a poligamia, em demonstrar como ela não contradiz a regra acima referida.
Toda sociedade é exógama e endógama ao mesmo tempo pois “não constituem entidades independentes e dotadas de existência objetiva. Devem ser consideradas mais como pontos de vista, ou perspectivas diferentes, mas solidárias” (p.90). Ora, deste modo, pode-se ser exógamo à uma família mas endógamo à uma tribo, ou exógamo a uma sociedade mas endógamo à humanidade.
O casamento entre primos cruzados “fornece o sistema de reciprocidade mais simples de se conceber” por estabelecer uma relação direta entre dois grupos. Os primos cruzados são os primeiros entre os quais o casamento é possível. Não existe nenhuma evidência para afirmar que seja a forma mais antiga.
“Endogamia funcional” é apenas uma função da exogamia, que surge em contraposição a ela, em função dela, exprimindo, de forma positiva, o caráter aparentemente negativo da exogamia. Impossível, portanto, considerá-las instituições de mesmo tipo.

Capítulo 5.
A reciprocidade responde a interesses econômicos, mas sobretudo a interesses supra-econômicos, superando os meramente econômicos, algumas vezes, inclusive, os contrariando. Ou seja, embora o econômico exista, há outras funções mais importantes, tais como poder, potência, simpatia, posição, e toda uma série formas de adquirir alianças e prevenir-se contra rivalidades.
É a partir da análise que faz de O Ensaio sobre a dádiva, de Marcel Mauss, que Lévi-Strauss, filiando-se a Escola Sociológica Francesa, trabalha com a idéia de reciprocidade, desenvolvida por Mauss no referido ensaio. Existiria, segundo Lévi-Strauss, em nossa sociedade, trocas que não satisfazem necessidades essenciais, embora sejam apreciadas (as trocas e os bens trocados) por um certo valor psicológico, estético ou sensual, tal como, por exemplo, as análises de Mauss sobre o Plotatch de certos índios norte-americanos.
São duas as objeções que Lévi-Strauss afirma poderem ser levantadas, embora apenas a primeira foca-se estritamente no caso dos exemplos que o antropólogo francês utiliza. Tal objeção consiste em dizer que trocas efetuadas da maneira dita por Lévi-Strauss (ver questão acima), correspondem a um fenômeno extremamente excepcional na nossa sociedade, existência de uma instituição arcaica. Lévi-Strauss responde afirmando que tudo depende da maneira pela qual podemos considerar o termo “arcaico”: se se trata da permanência, por motivos históricos, pelo acaso, ou se se trata de sua permanência por desempenhar um papel essencial à sociedade. A segunda opção é a resposta dada pelo autor.
Com o quadro de trocas matrimoniais pretende-se demonstrar os vínculos e relações sociais estabelecidas com o casamento, bem como as trocas efetuadas, nas quais a mulher constitui o bem mais importante.
A passagem em questão refere-se a necessidade de existir troca e da possibilidade de se transitar da paz para a guerra, conforme a maneira pela qual ela é efetuada. Ora, se a troca é necessária, e pode haver interesses dissonantes, o imperativo de obter o bem de outrem se dá, de maneira pacífica, por meio das trocas. Acompanhando o raciocínio, se tal transação não ocorre de maneira adequada, existe a guerra.

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