quarta-feira, 1 de julho de 2009

Guerra e Paz – Casa Grande e Senzala e a Obra de Gilberto Freyre nos anos 30

Guerra e Paz – Casa Grande e Senzala e a Obra de Gilberto Freyre nos anos 30
Por Ricardo Benzaquen de Araújo
Capítulo: Corpo e Alma do Brasil

Gilberto inicia o livro com uma confissão racista que teve quando estava no exterior para, logo depois, refuta-la, citando as perspectivas antropológicas de seu professor, Franz Boas: "O critério de diferenciação fundamental entre raça e cultura (,no qual) assenta todo o plano deste ensaio". Desejo de romper com o racismo: recuperar positivamente as contribuições oferecidas pelas diversas culturas negras para a formação da nossa nacionalidade.
Para o real significado do seu ineditismo, verificar o que era escrito, antes de CGS, sobre a questão da Raça. Visitas de Agassiz e Gobineau: inviabilidade do país – a miscigenação levaria a esterilidade, senão biológica, ao menos cultural; outro ponto de vista: ver a miscigenação como capaz de levar o Brasil à redenção, superando sua questão racial ( graças ao branqueamento da população, tanto de espírito tanto de corpo, através de presumíveis 3 gerações). Ambas valiam negativamente o relacionamento com nossas heranças: postulação da supremacia branca da o sentido do argumento. Gilberto Freyre estaria mais próximo da primeira interpretação que da segunda.
Mas em CGS ele cria uma terceira posição: "distinguindo raça de cultura e por isso valorizando em pé de igualdade as contribuições do negro, do português e – em menor escala – do índio", visa superar o racismo da produção intelectual e construir outra versão de identidade nacional. Um passado minimamente aceitável ao Brasil, que não ficaria mais a espreita de somente se realizar no futuro (como eram os anseios desenvolvimentistas e racionalistas em voga). Criação de uma verdadeira identidade coletiva.
Sujeito também a críticas: Gilberto Freyre não estaria criando uma visão idílica de nossa sociedade colonial? Escondendo os problemas e mazelas sociais por debaixo de uma suposta "democracia racial". Mas existe outra crítica feita ainda a CGS, de que Gilberto Freyre não teria se abstido da idéia de raça e tampouco a separado da idéia de cultura. Existem várias partes do livro dotadas de uma lógica racial, com um vocabulário inclusive marcado pelo louvor à biologia, "que parece muito mais compatível com o determinismo racial do século XIX que com o elogio da diversidade cultural". Gilberto Freyre é de um modo contrario ao racismo poligênico, por acreditar na miscigenação, e ao monogênico, por dar crédito as contribuições dos negros e árabes. Faz uso, portanto, de um conceito de raça, entretanto não comprometido com seu sentido usual.
A inserção de um terceiro elemento, o do meio ambiente, serve de intermediário entre raça e cultura, "relativizando-os, modificando o seu sentido mais freqüente, e tornando-os relativamente compatíveis entre si". Isso porque Gilberto Freyre faz uso de uma noção neolamacrkiana de raça, ou seja, "baseando-se na ilimitada aptidão dos seres humanos para se adaptar às mais diferentes condições ambientais (...) capacidade de incorporar, transmitir e herdar as características adquiridas na sua interação com o meio físico". Garante portanto consistência, estabilidade e até perenidade à cultural, ganhando essa um compromisso biológico: A noção de raça não prejudica irremediavelmente a vocação cultural do conjunto da reflexão, mas que discorda, até certo ponto, da forma com que a teoria de Boas trata a cultura.

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