quarta-feira, 1 de julho de 2009

DURKHEIM, Émile. As Regras do Método Sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 2007. (INCOMPLETO)

DURKHEIM, Émile. As Regras do Método Sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

Introdução:

Necessidade de se criar um método propriamente sociológico - não havia sido abordada a questão do método em outros sociólogos, era tudo indeterminado. Desta forma, Durkheim dedica-se a elaborar um método adaptado à natureza particular dos fenômenos sociais

Capítulo I - O que é um fato social? (teoria do objeto)

Há um grupo determinado de fenomenos em todas as sociedades que se distinguem dos caracteres que as ciencias da natureza estudam. Fatos que funcionam idependentes do uso que faço deles: não os fizemos, mas os recebemos pela educação, são "maneiras de agir, pensar e sentir que apresentam essa notável propriedade de existirem fora das consciencias individuais" (DURKHEIM, 2007, p. 2). É, portanto, exterior ao indivíduo.

Esses fatos também são dotados de uma força coercitiva, imperativa: se impõem ao indivíduo, independente de sua vontade. Ainda que se possa libertar destas regras, fazê-lo envolve lutar contra elas. Fato social: "maneiras de agir, pensar e sentir exteriores ao indivíduo, e que são dotados de um poder de coerção, em virtude do qual estes fatos se impõem à ele." (ídem, p. 3). DIferem-se, portanto, tanto de fenômenos orgânicos como de psíquicos.

Não tem o individuo como substrato, mas sim a sociedade em seu conjunto, são, portanto, sociais, e dominio próprio da sociologia. (Há outros fatos que, sem apresentar essa forma cristalizada, tem a mesma objetividade e ascend^ncia sobre o indivíduo, são as correntes sociais.)

Observa-se a educação das crianças, o caráter coercitivo para que estas adquiram maneiras de ver, pensar e sentir às quais jamais chegariam sozinhas: "educação tem justamente por objeto produzir o ser social" (ídem, p.6). Trata-se da pressão do meio social para modelar a criança.

Pensamentos que se encontram em todas as consciências individuais nem por isso são fatos sociais. O fato social é distinto de suas repercussões individais. Muitas vezes é dificil de distinguir as duas instancias. Para separar o fato social de toda a mistura e observá-lo no seu estado de pureza devemos nos valer de métodos como a estatística. O fato social exprime certo estado da alma coletiva, suas manifestações privads tem algo de social, mas também se relacionam com a constituição orgâno-psiquica do indivíduo: pertencem a dois reinos, sociopsicologia. "Interessam ao sociólogo sem constituir a matéria imediata da sociologia" (ídem, p.9).

Deve ser geral, justamente por ser coletivo (obrigatório), e não ser coletivo por ser geral: "ele está em cada parte porque está no todo, o que é diferente de estar no todo por estar nas partes" (ídem, p.9). "Se uma maneira de se conduzir, que existe exteriormente às consciências individuais se generaliza, ela só pode fazê-lo impondo-se" (ídem, p.11).

Faz parte do pensamento sociologico de Durkheim pensar a urbanização (referência no fim da p.11). Estrutura política de uma sociedade: maneira como diferentes segmentos habituaram-se a viver uns com os outros. Enfim: "é fato social toda maneira de fazer, fixada ou não, suscetívelde exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou ainda, toda maneira de fazer que é geral na extensão de uma sociedade dada e, ao mesmo tempo, possui uma existência própria, independente de suas manifestações individuais" (ídem, p. 13)

Capítulo II - Regras relativas à observação dos fatos sociais (teoria da relação com o objeto)

Considerar os fatos sociais como coisas. Homem vive em meio a coisas sobr as quais formula uma opinião. Há uma crítica ao método detutivo, segundo o qual os fatos seriam secundários (diz que esse método não poderia gerar resultados objetivos). Noções e conceitos não são os substitutos das coisas. Tal ciência não possui matéria de que se alimentar.
Ideal de ciência de Durkheim com finalidades práticas: remédios sociais. Os homens constituem opiniões frente aos objetos que os rodeiam mesmo antes do surgimento da ciências, são dessas pré-noções de que nos servimos para a prática cotidiana. "Sentimos sua resistência quando buscamos libertar-nos delas" (p. 19). Mas a sociologia tem tratado não de coisas, mas de conceitos.
Crítica à noção de evolução de Comte, em que cada sociedade estaria colocada em uma linha geométrica: parece-se mais com uma árvores com suas ramificações e galhos. Pensar à maneira de Comte, neste aspecto, é ideológico (semelhança com a noção de ideologia em Marx, neste, inversão do real, em Durkheim, estar tratando a evolução da humanidade como uma linha reta. Possuem certas semelhanças).
Já Spencer faz o estudo das sociedades, e não da humanidade (como Comte). Crê que as sociedades só existem com cooperação. Trata-se de uma noção de espírito (creio que poderiamos dizer metafísica). Para afirmarmos que a cooperação é a essencia da vida social teriamos que revistar todas as manifestações de existencia coletiva. O que faz Spencer é crer a sociedade como a realização de uma idéia.
O método preconiza, então, que se não temos, no presente estagio da sociologia, uma definição precis dos conceitos, que não os utilizemos, até que estejam cientificamente constituídos. Da mesma maneira que a fisica tem como objeto os corpos, e não a idéia que se faz deles. "Em toda ordem de pesquisas, com efeito, é somente quando a explicação dos fatos está suficientemente avançada que épossível estabelecer que eles têm um objetivoe qual é esse objetivo" (p.25).
Teoria só se torna viável quando a ciência estiver avançada - análise indutiva.Os fenomenos sociais são coisas, e assim devem ser tratados, são os únicos dados do qual o sociólogo dispõem. Coisa é tudo o que é dado, tudo que se oferece à observação. Como as noções não são dadas diretamente, para atingi-las somente através da realidade fenomênica que as exprime. "Considerar fenômenos sociais em si mesmos, separados dos sujeitos conscientes que os concebem; é preciso estudá-los de fora, como coisas exteriores, pois é nessa qualidade que eles se apresentam a nós" (p.28)
“O caráter convencional de uma prática ou de uma instituição jamais deve ser presumido”(p.29): fatos mais arbitrários apresentarão certa regularidade, objetividade. Possibilidade de reconhecer uma coisa pela dificuldade de se produzir uma mudança nela: nos aplica resistência, muitas vezes impossibilitando a mudança. Necessidade da sociologia se objetivar, tal como ocorreu com a psicologia cientifica.
Fatos sociais tem mais natural e imediatamente a característica de coisa: direito existe nos códigos, dados se inscrevem no estatístico: tendem a se construir fora da consciência, visto que as dominam. Sociologia com vantagem sobre a psicologia: embora os fatos sejam mais complexos são mais facilmente apreensíveis.
II
Necessidade de regras metodológicas:
1. È preciso descartar sistematicamente todas as pré-noções (base do método científico). Não pode utilizar conceitos fora da ciência. Dificuldade: sentimento sempre se intromete, influenciando à maneira como concebemos as coisas. Os sentimentos são, eles mesmos, suscetíveis de estudos sociológicos.
2. Primeiro procedimento: definir as coisas de que trata. Para ser objetiva, deve exprimir os fenômenos em função de propriedades que lhe são inerentes. São essas propriedades tudo o que sabemos do real, determinam a maneira como fato deve ser agrupado. Regra: “Jamais tomar por objeto de pesquisas senão um grupo de fenômenos previamente definidos por certos caracteres exteriores que lhes são comuns, e compreender na mesma pesquisa todos os que correspondem a essa definição” (p.36). Modo como os fatos são agrupados depende da natureza das coisas. Necessidade de construir novos conceitos utilizando uma terminologia especial: o conceito vulgar serve de indicador, embora por ser grosseiramente formado difira do científico.
É a falta de método que faz com que observadores crêem nos selvagens sem qualquer moralidade: partem da idéia de que nossa moral é a moral. Aplicando nossa regra, verificando que um preceito é moral caso haja sanção. Função da regra 2 é nos fazer entrar em contato com as coisas, e a apreendemos por meio dos exteriores que ela exprime. 1º e indispensável elo que a ciência desenrolará. Ciência deve partir da sensação, e não de conceitos que se formam sem ela, devido ao fato de ser pela sensação que nos é dado o exterior das coisas. Exprimir as coisas como elas são, não por sua utilidade: ponto de partida da ciência não poderia ser outro, senão o vulgar, prático.
3. Sensação é falsamente objetiva: mais objetivos de serem representados quanto mais separados dos fatos individuais que os manifestam. Realidade social pode, sem deixar de ser ela mesma, se cristalizar para que o sociólogo a estude: hábitos coletivos exprimem-se por formas definidas, regras jurídicas, ditos populares... Um objeto fixo, forma permanente, padrão constante que não dá margem às impressões subjetivas: “considerá-los por um lado em que estes se apresentem isolados de suas manifestações individuais” (p.46). Abordar o reino social onde ele mais se abre à análise científica.

Capítulo III – Regras relativas à distinção entre normal e patológico (imperativos práticos)

Duas ordens de fatos muito distintas em certos aspectos: o que são o que devem ser (normais) e os que são o que deveriam ser de outro modo (patológicos). Ciência, apenas diz o que os fatos são, não os julga: não haveria então finalidade prática, não pode a ciência dizer a finalidade a ser buscada.
Encontrar um critério objetivo em que a ciência encontre nos fatos mesmos algo que permita cientificamente distinguir a saúde da doença então ela esclarecerá a prática e se manterá fiel ao seu método.

I

Analogia com a dor. Saúde: perfeita adaptação do organismo ao seu meio, doença, tudo o que a perturba. Em um organismo, cada órgão com sua função para a manutenção do equilíbrio vital. Doença nem sempre nos deixa desamparados, mas nos obriga a nos adaptar frente certa necessidade especial. Critério é muito inaplicável! Erro é atingir prematuramente a essência dos fenômenos: supõe como admitidas proposições que só poderão ser comprovadas, ou refutadas, quando a ciência estiver em um estado mais avançado. Devemos simplesmente buscar um sinal exterior que nos permite distinguir essas duas ordens de fatos.
Início da tese de Durkheim sobre normal e patológico: fenômenos sociais capazes de assumir duas formas diferentes, embora não deixem de ser essencialmente eles próprios: a) Gerais: se verificam senão em todos na maior parte dos indivíduos, variando de um sujeito a outro (variações compreendidas dentro de limites) – chamaremos de fatos normais – tipo normal se confunde com o tipo médio; b) excepcionais: se verificam na minoria e muitas vezes nem duram muito tempo (exceção no espaço e tempo) – chamaremos de fatos patológicos.

Analogia com o fisiologista: este estuda as funções do organismo médio, tal como o sociólogo. Um fato só pode ser considerado patológico para uma espécie dada, impossível para um fenômeno a priori: não julgar as coisas por boas ou más em si mesmas.
Relativismo: o que é normal para o selvagem nem sempre o é para o civilizado: fato social só pode ser dito normal para uma espécie determinada com relação a sua fase de desenvolvimento (analogia com o que consideramos normal para um velho ou uma criança).
Conceitos reconhecíveis por critérios objetivos sem se afastarem da noção de saúde e doença. Nenhuma espécie pode ser concebida como irremediavelmente doente.

II

Procurar explicar a generalidade que caracteriza os fatos exteriormente. Esclarecer o normal do patológico sobretudo em vistas à prática.
Um fato pode continuar a existir sem corresponder às exigências da situação (ex da p.62: evolução, o único tipo normal é o passado)
Dificuldade em se definir o normal e patológico por causa dos estados de desenvolvimento da sociedade.
“Sairá da dificuldade (...) após ter estabelecido pela observação que o fato é geral, ele remontará às condições que determinaram essa generalidade no passado e procurará saber, a seguir, se tais condições ainda se verificam no presente, ou, ao contrário, se alteram” (p.63). Normalidade: sincronia; anormalidade: anacronia.
Utilização da historia: dar objetividade (problema do anacronismo tende a ser resolvido).
É falso que tudo o que é útil seja normal
Resumo geral:
1. Um fato social é normal para um tipo social determinado, considerado numa fase determinada de seu desenvolvimento, quando ele se produz na média das sociedades dessa espécie, consideradas na fase correspondente de sua evolução;
2. Os resultados do método precedente podem ser verificados mostrando-se que a generalidade do fenômeno se deve às condições gerais da vida coletiva no tipo social considerado.
3. Essa verificação é necessária quando esse fato se relaciona a uma espécie social que ainda não consumou sua evolução integral.

III – aplicação do método: o crime

Remete-se às particularidades da relação homem objeto na sociologia. Crime se observa nas sociedades de todos os tipos: fazer do crime uma doença social é dizer que deriva da constituição fundamental do ser vivo (seria apagar as distinções entre fisiológico e patológico). Crime é anormal quando atinge um índice exagerado: o normal é que haja criminalidade. Dizer que um fenômeno é normal significa reconhecer que trata-se de uma parte integrante de toda sociedade sadia.
Razões: 1. Crime é normal pois uma sociedade em que ele não existe seria impossível. É normal e útil: pois foi essencial para o desenvolvimento da moral e do direito.
Desenvolvimento não existe sem a heterogeneidade de pensamentos. Crime ainda é útil por demonstrar a necessidade de mudança: mostra que o caminho para elas está aberto a prepara diretamente essas mudanças. Crime antecipa transformações que um dia viriam a ser necessárias.
Criminoso: agente regular da vida social.
Sociologia tem por objeto o estudo do tipo normal. Sociólogo tem a necessidade de sentir que pode aprender com os fatos que são objetivos. “para que a sociologia seja realmente uma ciência de coisas, é preciso que a generalidade dos fenômenos seja tomada como critério de sua normalidade” (p.75)
Papel do sociólogo é o de médico: previne a eclosão de doenças pela boa higiene, e caso ocorram é capaz de curá-las. O desejável é a saúde. Manter o estado normal.


Capítulo IV – Regras relativas à constituição de tipos sociais (classificação)
Capítulo V – Regras relativas à explicação dos fatos sociais (explicação)
Capítulo VI – Regras relativas à administração da prova (prova)

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